A Disputa por Horizon: Quando a Paixão Encontra a Acusação de Plágio

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O universo dos videogames, vasto e em constante evolução, é também um palco frequente para intensas disputas sobre a propriedade intelectual. Recentemente, uma nova frente de batalha se abriu no cenário jurídico dos games, envolvendo duas das maiores potências da indústria: a japonesa Sony PlayStation e a gigante chinesa Tencent. O epicentro da discórdia é a aclamada franquia Horizon, da Sony, e o vindouro título da Tencent, Light of Motiram, que agora é alvo de um processo por suposta violação de direitos autorais e marcas registradas.

Uma Proposta Ambiciosa e um `Convite do Oriente` Recusado

Antes que a briga legal se instaurasse, uma história curiosa de colaboração – ou tentativa dela – adiciona uma camada de ironia a toda a situação. Em março de 2024, a Tencent, através de seu estúdio Aurora, abordou a Sony com uma proposta grandiosa. O projeto, batizado de “Expanding the Horizon” (Expandindo o Horizon), visava levar o universo pós-apocalíptico da franquia para uma nova dimensão: o mobile e, surpreendentemente, para a Ásia. A ideia era que a icônica heroína Aloy recebesse um enigmático “convite do misterioso Oriente” e viajasse para um “reino distante”.

O conceito não era apenas uma mudança de cenário; era uma imersão cultural. O jogo mobile de Horizon prometia introduzir novas tribos inspiradas em minorias étnicas, estéticas orientais e até mesmo “mecanimais” — máquinas inspiradas na mitologia do leste, como um imponente dragão mecânico chinês. A Tencent viu um enorme potencial em transformar Horizon em um jogo mobile de “jogos como serviço” (GaaS), incorporando elementos de sobrevivência, criação, domesticação de criaturas e modos multiplayer, características altamente lucrativas no mercado asiático.

A paixão da Tencent pela franquia parecia genuína. Os documentos do processo revelam que a equipe do estúdio Aurora se autoproclamou “fãs incondicionais” de Horizon, chegando a apresentar capturas de tela dos troféus de PlayStation de seus membros e fotos da equipe jogando Horizon em seu próprio estúdio. Uma demonstração de devoção que, no mínimo, agora soa como um prelúdio tragicômico.

No entanto, apesar de todo o entusiasmo e detalhamento da proposta, a Sony recusou a parceria em abril de 2024. A empresa expressou que, embora “apreciasse grandemente o nível de paixão da Aurora e o esforço dedicado ao pitch”, não daria seguimento à colaboração.

A Reviravolta: “Light of Motiram” e a Acusação de Cópia `Integral`

Oito meses após a recusa, em novembro de 2024, a Tencent fez um anúncio que reverberaria pelos corredores da Sony: Light of Motiram, um novo jogo de mundo aberto. Para a Sony, o trailer de gameplay revelado pela Tencent não apenas destoava das características asiáticas propostas no pitch de Horizon, como “copiava Horizon por completo”. As semelhanças, segundo a Sony, eram gritantes demais para serem meras coincidências ou inspirações.

A Sony alega que a Tencent estava, na verdade, desenvolvendo “Light of Motiram” enquanto apresentava sua proposta para o jogo mobile de Horizon, utilizando o pitch como uma fachada ou, talvez, como uma forma de validar conceitos. Agora, a gigante japonesa busca indenizações que podem chegar a US$ 150.000 por cada obra da franquia Horizon supostamente infringida, além da exigência de que a Tencent entregue todo material de marketing e produtos que contenham as “marcas proibidas” para que a Sony possa destruí-los.

O caso coloca em xeque não apenas a originalidade de “Light of Motiram”, mas também a ética e as práticas competitivas no volátil mercado de desenvolvimento de jogos. De “fãs incondicionais”, a Tencent se encontra na posição de ré, acusada de se apropriar indevidamente de uma propriedade intelectual alheia.

Implicações para o Futuro dos Jogos e da Propriedade Intelectual

Este processo entre Sony e Tencent serve como um lembrete vívido da constante tensão entre a busca por inovação e a necessidade de proteção da propriedade intelectual na indústria de jogos. Em um mercado global cada vez mais competitivo, onde ideias e franquias valem bilhões, a linha entre a influência criativa e a cópia descarada torna-se incrivelmente tênue.

O destino de “Light of Motiram” – que, a propósito, ainda pode ser adicionado à lista de desejos da Steam, mas sem data de lançamento – parece agora pender na balança de um tribunal, e não apenas no hype dos jogadores. A saga legal entre Sony e Tencent será, sem dúvida, um marco importante, potencialmente definindo precedentes e reforçando a importância da originalidade e do respeito aos direitos autorais em uma era de expansão digital e ambições ilimitadas.

Lucas Meireles

Lucas Meireles, 26 anos, atua como jornalista especializado em eSports no Recife. Focado principalmente na cobertura de Free Fire e Mobile Legends, ele se destaca por suas análises táticas e entrevistas com jogadores emergentes. Começou sua carreira em um blog pessoal e hoje é reconhecido por sua cobertura detalhada de torneios mobile.

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