O palco de um The International, o torneio mais prestigioso de Dota 2, é o cenário de lendas, triunfos épicos e, por vezes, dramas que se gravam na memória dos fãs. Para Wang “Ame” Chunyu, um dos jogadores mais talentosos e carismáticos da China, esse palco tem sido o de uma saga agridoce, marcada por uma repetição quase cruel: três Grand Finals, três derrotas pelo placar de 2 a 3. A mais recente, com a Xtreme Gaming contra a Team Falcons no TI 2025, reacendeu a discussão sobre o que Chalice, seu ex-companheiro de equipe, descreve como “destino”.
A Voz da Empatia: Chalice e a Dor Repetida
Yan “Chalice” Shenyi, figura conhecida e respeitada na cena chinesa de Dota 2, não hesitou em expressar sua empatia e tristeza pela sina de Ame. Em uma transmissão pessoal, Chalice, que compartilhou com Ame a amarga derrota de 2-3 na final do TI 2018 pela LGD Gaming, trouxe à tona a perspectiva de quem já esteve naquele lugar. Suas palavras, permeadas por uma compreensão profunda da pressão e da exaustão envolvidas, ecoam o sentimento de muitos fãs:
“Sempre falta um pouquinho… Como se fosse apenas um por cento. É como se o próprio destino estivesse contra você. Eles jogaram por 11 horas e devem estar exaustos. Depois de uma derrota de 2-3, pode-se culpar o azar, mas depois de três finais assim, já é o destino, mas é tão triste perceber isso.
Essa melhor-de-cinco basicamente reflete a história da cena chinesa de Dota 2. Quando nada se espera de você, você sente motivação, mas se todos ao redor esperam muito, tudo dá errado. E, ainda assim, se considerarmos as expectativas de desempenho da Xtreme antes do torneio, seu resultado é um enorme sucesso. Não há nada de errado em perder, mas outra vez por 2-3… Isso pode quebrar o Ame. Três medalhas de prata? Isso é simplesmente uma maldição inacreditável. Apenas uma final de partir o coração, não sei como ele vai jogar no próximo TI.”
A fala de Chalice não é apenas um lamento; é uma análise perspicaz. Ele destaca a ironia do cenário chinês, onde a pressão das expectativas pode ser tão sufocante quanto a adversidade no jogo. A Xtreme Gaming, com Ame à frente, surpreendeu muitos ao chegar à final, transformando a derrota em um “enorme sucesso” para alguns, mas para Ame, o peso da repetição é inegável.
A Trilogia Amarga: Três Vezes Quase Lá
A história de Ame no The International é um conto de quase glória. As três finais perdidas por 2 a 3 são marcos dolorosos em uma carreira brilhante:
- The International 2018: Com a LGD Gaming, Ame enfrentou a OG em uma das maiores viradas da história do Esports. O placar de 2 a 3 foi um golpe que muitos ainda sentem. Chalice era seu companheiro de equipe.
- The International 2021: Já com a PSG.LGD, Ame chegou novamente à Grand Final, desta vez contra a Team Spirit. Outra vez, o placar final foi 2 a 3, com a equipe russa emergindo vitoriosa de forma espetacular.
- The International 2025: Pela Xtreme Gaming, a história se repetiu contra a Team Falcons. O ciclo se fecha com a mesma pontuação, o mesmo sabor agridoce de estar a um jogo da glória.
É uma sequência de eventos que desafia a probabilidade e o próprio conceito de sorte. Chegar à final de um The International é um feito monumental por si só. Fazê-lo três vezes e perder todas pelo menor placar possível (um jogo de diferença em uma série de melhor-de-cinco) é, de fato, algo que beira o místico, o “destino”, como Chalice apontou com uma dose de triste ironia.
O Peso Psicológico e o Futuro de um Ícone
Ame é, sem dúvida, um dos jogadores de carry mais influentes da história do Dota 2. Sua mecânica impecável, farm eficiente e plays decisivas o solidificaram como uma lenda. Contudo, essa série de derrotas em finais de TI adiciona uma camada de complexidade à sua narrativa. O impacto psicológico de tais reveses não pode ser subestimado. Como Chalice questiona, “não sei como ele vai jogar no próximo TI”.
A comunidade de Dota 2, especialmente a chinesa, tem um carinho especial por Ame. Há uma esperança persistente de que ele, um dia, possa quebrar essa “maldição” e levantar o Aegis. Mas cada derrota por 2-3 serve como um lembrete cruel do quão perto ele chegou e, ao mesmo tempo, quão longe o destino parece mantê-lo da coroa.
Conclusão: O Legado de um Quase Campeão
Ame continua a ser um titã do Dota 2, e sua capacidade de guiar equipes às Grand Finals do The International é inquestionável. No entanto, sua carreira será para sempre assombrada pela sombra do vice-campeonato. As palavras de Chalice ressoam a verdade de que, no pináculo do Esports, a linha entre a glória e a desilusão pode ser tão tênue quanto um único jogo, e às vezes, parece traçada por uma força maior.
A saga de Ame é um testemunho da brutalidade e da beleza do esporte de alto nível, onde a perícia é fundamental, mas o elemento humano – a resiliência, a exaustão, e a persistência de um sonho – é o que realmente captura a imaginação e o coração dos fãs.