A Máxima da Nintendo: Gameplay é Rei, Franquia é Veste

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No universo dos videogames, a busca incessante por novidades e a criação de novas propriedades intelectuais (IPs) é uma corrida constante entre desenvolvedoras e editoras. Contudo, em meio a essa maré de lançamentos de marcas “frescas”, uma gigante se destaca por sua abordagem singular: a Nintendo. Enquanto muitos correm para inovar em personagens e histórias, a Big N parece ter um mantra diferente, um que um ex-desenvolvedor agora revela ao público, iluminando a filosofia por trás de sua estratégia de longa data. E, acreditem, não é sobre criar o próximo herói icônico, mas sim sobre a pura e simples diversão de jogar.

A Regra de Ouro: Mecânicas de Jogo Primeiro

Segundo Ken Watanabe, ex-desenvolvedor de software da Nintendo, a empresa só se aventura na criação de uma nova IP quando a jogabilidade proposta simplesmente não se encaixa em nenhuma de suas veneráveis franquias existentes. Sim, é isso mesmo: o gameplay vem em primeiro lugar, e a “roupagem” (ou seja, a escolha da franquia, seus personagens e seu mundo) é secundária, escolhida com base em qual universo se adapta melhor àquela nova forma de jogar.

“Novas franquias não surgiram simplesmente porque não há necessidade real de criá-las”, disse Ken Watanabe. “Quando a Nintendo quer fazer algo novo, é basicamente sobre as mecânicas de jogo primeiro — sobre criar uma nova maneira de jogar. Quanto à pele ou ao invólucro, eles realmente não se preocupam com isso. Eles apenas escolhem o que melhor se adapta a essa nova jogabilidade.”

Essa declaração é um balde de água fria em qualquer expectativa de que a Nintendo esteja guardando uma infinidade de novas sagas em seu arsenal. Em vez disso, ela reforça uma verdade observada há décadas: a genialidade da Nintendo reside em sua capacidade de reinventar a roda do gameplay, e só depois, com essa roda em mãos, decidir qual carro ela irá equipar. É um pragmatismo quase cirúrgico, onde a inovação não é uma busca por uma nova história, mas por uma nova experiência interativa.

Splatoon: O Grito do Novo que Precisava de uma Voz Única

O melhor exemplo dessa filosofia, e talvez o mais notável “novo IP” da Nintendo nos últimos anos (lançado em 2015 para o Wii U, vejam só!), é Splatoon. Contos da indústria contam que a Nintendo inicialmente tentou encaixar a ideia de um jogo de tiro em terceira pessoa onde você atira tinta e se esconde nela em universos já conhecidos. Imaginar um Mario mergulhando em tinta ou um Link transformando-se em lula é, no mínimo, pitoresco.

A tentativa de usar rostos familiares simplesmente não funcionou. As mecânicas de jogo, tão vibrantes e diferentes, exigiam uma identidade visual e narrativa que as complementasse, não que as restringisse. Foi nesse momento que, na rara instância de um desencaixe completo, a Nintendo decidiu criar o elenco dos Inklings e Octolings, dando à série uma identidade única que comunicava perfeitamente as ideias do jogo aos jogadores. Splatoon não é apenas uma nova série; é a prova viva de que a Nintendo só rompe com o passado quando o futuro do gameplay exige uma tela em branco.

O Presente e o Futuro: A Hegemonia das Franquias Estabelecidas

Olhando para o cronograma de lançamentos da Nintendo para o resto deste ano e o início de 2026, a estratégia de “gameplay primeiro” parece mais sólida do que nunca. Os próximos grandes títulos da empresa são, em sua maioria esmagadora, baseados em franquias já estabelecidas:

  • Metroid Prime 4: Beyond
  • Hyrule Warriors: Age of Imprisonment
  • Kirby Air Riders
  • Splatoon Raiders

Além disso, este ano já nos trouxe novos jogos de Mario Kart e Donkey Kong. É um lineup que grita “confiança no que funciona”, uma ode à longevidade e adaptabilidade de seus universos mais queridos. Nenhuma surpresa revolucionária em termos de IP, mas uma promessa tácita de que a diversão, a inovação no modo de jogar, estará lá. Afinal, para a Nintendo, a verdadeira inovação está na experiência, não necessariamente no nome da capa.

A Ironia do Conservadorismo Criativo

No final das contas, há uma certa ironia nessa abordagem da Nintendo. Enquanto muitas empresas se veem pressionadas a lançar “o próximo grande sucesso” com uma IP inédita a cada ciclo, correndo riscos colossais e, muitas vezes, falhando espetacularmente, a Nintendo navega em águas mais calmas. Ela aposta na força de suas marcas estabelecidas, utilizando-as como recipientes flexíveis para suas sempre inventivas mecânicas de jogo.

Essa “teimosia” ou, talvez, sabedoria, em focar no cerne da experiência lúdica — o gameplay — é o que permite à Nintendo entregar consistentemente títulos que, mesmo sendo parte de sagas antigas, conseguem se sentir frescos e relevantes. É uma prova de que, para a Big N, a verdadeira criatividade não está em criar novos mundos do zero, mas em encontrar novas maneiras de interagir com os que já amamos, e só quando isso se prova impossível, então, e só então, em nos apresentar um novo universo para explorar. E se a história nos ensinou algo, é que essa fórmula tem sido incrivelmente eficaz.

Lucas Meireles

Lucas Meireles, 26 anos, atua como jornalista especializado em eSports no Recife. Focado principalmente na cobertura de Free Fire e Mobile Legends, ele se destaca por suas análises táticas e entrevistas com jogadores emergentes. Começou sua carreira em um blog pessoal e hoje é reconhecido por sua cobertura detalhada de torneios mobile.

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