O palco de um The International é onde lendas nascem e promessas são testadas. Para a Natus Vincere (NAVI) no TI 2025, o que se esperava ser o alvorecer de uma “Nova Era” no Dota 2, acabou por ser uma lição precoce e, para alguns, dolorosa. A equipe ucraniana, considerada uma azarona, começou sua jornada com um ímpeto surpreendente, mas viu seu caminho terminar de forma abrupta, sem sequer um último fôlego dramático. O que aconteceu com a tão falada “Nova Era”? Vamos mergulhar na análise.
O Vislumbre da Criatividade: Uma Equipe Que Ousou Tentar
É inegável que a NAVI chegou ao campeonato com uma bagagem impressionante de ideias e estratégias. Para uma equipe que não figurava entre os favoritos, a audácia em suas escolhas de rascunho (drafts) foi, no mínimo, digna de aplausos. Vimos o retorno de um Vengeful Spirit na função de offlaner contra a Tidebound, resultando em uma vitória surpreendente. O Undying no mid, já testado e aprovado no EWC, mais uma vez entregou resultados positivos, desta vez contra a Heroic. O suporte Spirit Breaker e a inovadora Snapfire mid, que se encaixa perfeitamente na meta atual com Helm of the Dominator, foram outras amostras de um pensamento estratégico fora da caixa. A equipe tinha um brilho individual notável, com o gotthejuice no Morphling entregando uma performance quase perfeita contra a Heroic, e as teamfights da NAVI exibindo coordenação em foco, salvamentos e recuos calculados. Em termos de micro-gerenciamento, eles eram, por vezes, um espetáculo.
O Paradoxo dos Rascunhos: Ideias Brilhantes, Execução Inconsistente
No entanto, o que a NAVI tinha de criatividade nos drafts, por vezes faltava em coerência e consistência. As muitas ideias, embora geniais individualmente, não se alinhavam em um plano de jogo sólido a todo momento. Essa falta de sinergia era evidente. A equipe, por exemplo, foi a única a ceder o Lone Druid à Nigma, após todos os outros times aprenderem (às custas da BetBoom Team) o quão desastrosa essa escolha poderia ser. Para piorar, ainda entregaram a Marci, heroína assinatura do adversário, e tentaram combater essa dupla com um Gyrocopter e Silencer na mesma rota. O resultado? O carry da NAVI estava batendo na selva no nível dois, incapaz de competir na lane. Uma performance que foi, em partes, tão espetacular quanto ineficaz.
A “Nova Era” prometia um novo fôlego, mas a inexperiência transformou o campo de batalha em um laboratório de testes imprevisível.
O Calcanhar de Aquiles: Macro-game e o Preço da Impaciência
Enquanto a capacidade de executar uma luta era notável, a habilidade de escolher a luta certa e de ditar o ritmo do mapa parecia ser o ponto fraco da NAVI. A equipe lutou para estabelecer um bom macro-game, falhando em ocupar posições estratégicas, prever os movimentos inimigos ou, crucialmente, evitar confrontos desvantajosos. Neste aspecto, a NAVI esteve, ironicamente, mais perto do caos de uma partida casual (“pub”) do que da disciplina tática exigida em um The International. Um momento decisivo contra a Tundra na terceira partida ilustra bem: um mergulho agressivo em território inimigo sem a presença do carry, que estava farmando longe. Uma potencial luta 5 contra 0 transformou-se em um desfavorável 2 contra 3, com o gotthejuice marchando para a batalha enquanto seus companheiros pereciam.
A Pressão e o Desmoronamento Mental
Por trás das escolhas e execuções, há o elemento humano. É perceptível que a inexperiência de muitos jogadores jovens da NAVI pesou nos momentos cruciais. Apesar da presença do veterano Zayac, ele não conseguiu infundir a calma e a confiança necessárias em seus companheiros mais “verdes”. Quando o jogo da NAVI desandava, o que se via era um carnaval de erros, com decisões impensadas e, por vezes, visivelmente pânico. Um Riddys no Warlock, por exemplo, ativando sua ultimate em meio ao nada, longe dos companheiros, desperdiçando uma habilidade vital. Na partida decisiva contra a Nigma, a equipe simplesmente desmoronou. Depois de um jogo equilibrado, o offlaner morreu em uma situação inofensiva, a equipe avançou sem ele para uma luta fadada ao fracasso, e o ciclo de mortes continuou, selando a eliminação da equipe de forma anticlimática, sem uma última e épica batalha.
A “Nova Era” Espera na Próxima Temporada
A NAVI se despediu do The International 2025 não com um rugido, mas com um suspiro. Houve momentos de brilho, de genialidade, de pura emoção no micro-game, mas a falta de uma base estratégica sólida e a incapacidade de manter a compostura sob pressão revelaram as rachaduras na fundação dessa “Nova Era”. O caminho para a grandeza raramente é linear, e para a NAVI, a jornada no TI 2025 foi uma série valiosa de lições aprendidas. A promessa de uma “Nova Era” ainda está no horizonte, mas, ao que parece, ela terá que esperar, no mínimo, pela próxima temporada para verdadeiramente florescer.