Adeus à Ambiguidade da Idade: Como a Steam Exige Cartão de Crédito para Conteúdo Adulto no Reino Unido e o Que Isso Sinaliza

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Em um cenário digital cada vez mais regulado, onde a fronteira entre liberdade de expressão e proteção de usuários se torna um campo minado legislativo, o Reino Unido acaba de dar um passo significativo que ressoa por todo o universo gamer. A gigante Steam, conhecida por sua vasta biblioteca de jogos e comunidades vibrantes, agora implementa uma medida peculiar para seus usuários britânicos: a exigência de um cartão de crédito para acessar conteúdo classificado como “maduro”. Mas o que está por trás dessa decisão, e o que ela pode significar para o futuro da privacidade e do acesso a jogos globalmente?

O Ato de Segurança Online: Um Escudo ou Um Cinto de Castidade Digital?

Desde julho, a Lei de Segurança Online do Reino Unido entrou em vigor, exigindo que qualquer serviço online que possa conter “conteúdo prejudicial a crianças” implemente verificações de idade robustas. A intenção é nobre: proteger os mais jovens dos perigos da internet. No entanto, a abrangência da lei é vasta, impactando desde redes sociais como X (anteriormente Twitter) até plataformas com conteúdo adulto explícito, e até mesmo gigantes do entretenimento como a Xbox já anunciaram que implementarão suas próprias verificações em 2024.

Nesse contexto, a Valve, operadora da Steam, não poderia ficar de fora. A plataforma, que hospeda desde títulos infantis até jogos com temáticas complexas e adultas, precisou se adaptar às novas exigências legais.

A Resposta da Valve: Um Cartão na Manga (Literalmente)

Para cumprir a legislação britânica, a Valve decidiu adotar uma abordagem singular. Para que usuários no Reino Unido possam acessar páginas de loja de jogos com “conteúdo maduro” e seus respectivos hubs comunitários, é necessário fazer login em uma conta ativa e, mais importante, optar explicitamente pela verificação de idade nas configurações da conta. E é aqui que a peculiaridade se manifesta: este processo de opt-in exige que um cartão de crédito válido esteja armazenado na conta do Steam.

A lógica, segundo a Valve e validada pela Ofcom (a autoridade regulatória e de concorrência do Reino Unido), é simples: para obter um cartão de crédito, o indivíduo deve ter, legalmente, 18 anos. Portanto, ele serve como uma prova de maioridade eficaz. Cartões de débito, por outro lado, não servem a esse propósito. No Reino Unido, crianças a partir dos 11 anos podem ter um, o que os torna ineficazes para este tipo de verificação.

Em um mundo de biometria e reconhecimento facial, a boa e velha tarja magnética do cartão de crédito ressurgiu como o grande guardião da moralidade digital. Quem diria que o plástico bancário seria o novo “porteiro” do conteúdo 18+? É quase um retorno aos tempos em que “passar o cartão” tinha um significado completamente diferente.

O Que É “Maduro”? A Linha Tênue da Classificação

Apesar da nova regra, a definição exata de “jogo maduro” pela Steam parece ter suas nuances. Nossa análise sugere que títulos com conteúdo violento ou mesmo sexualmente sugestivo, como Baldur`s Gate 3 ou Kingdom Come Deliverance 2, ainda podem ser visualizados sem a necessidade imediata de verificação em alguns casos. Contudo, jogos onde o conteúdo sexual é uma característica principal, ou aqueles classificados com maior rigor, são os principais alvos da nova exigência.

A Steam não é a única plataforma digital a impor restrições. A Itch.io, por exemplo, optou por tornar páginas afetadas completamente indisponíveis no Reino Unido até que um processo de verificação de idade de terceiros seja implementado, mostrando diferentes abordagens para o mesmo desafio regulatório.

Além das Fronteiras Britânicas: Um Precedente Global?

A medida da Valve no Reino Unido não é apenas uma notícia local; ela levanta questionamentos importantes sobre o futuro da regulação digital em escala global. Com cada vez mais países buscando “proteger” seus cidadãos online, especialmente os mais jovens, a questão da verificação de idade se torna central. Mas qual o custo para a privacidade do usuário?

A exigência de dados bancários para acessar certos conteúdos pode ser vista como uma barreira inconveniente para muitos, ou, para os mais céticos, uma porta de entrada para uma coleta de dados ainda mais invasiva por parte das plataformas. Seria a “maioridade digital” comprovada com o mesmo rigor (e burocracia) da vida real, em cada clique?

É crucial observar que, por enquanto, essa exigência é específica para usuários no Reino Unido. Para usuários no Brasil e em outras regiões, as políticas de verificação de idade da Steam permanecem as mesmas de antes, baseadas em datas de nascimento fornecidas pelo usuário.

A decisão da Steam no Reino Unido é um lembrete vívido de que o mundo dos games, antes visto como um refúgio da burocracia, está cada vez mais sujeito às leis do mundo real. Resta saber se essa tendência se espalhará, transformando o acesso ao conteúdo adulto em uma jornada que exige mais do que apenas alguns cliques – talvez um extrato bancário. O futuro do jogo digital, ao que parece, terá uma dose maior de regulamentação e, quem sabe, um pouco mais de “papelada” digital.

Lucas Meireles

Lucas Meireles, 26 anos, atua como jornalista especializado em eSports no Recife. Focado principalmente na cobertura de Free Fire e Mobile Legends, ele se destaca por suas análises táticas e entrevistas com jogadores emergentes. Começou sua carreira em um blog pessoal e hoje é reconhecido por sua cobertura detalhada de torneios mobile.

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