A Lição de Concord: Mais Olhos no Processo
Hermen Hulst, CEO da divisão de estúdios da Sony Interactive Entertainment, foi categórico ao Financial Times: a principal lição extraída do meteórico declínio de Concord é a necessidade premente de uma maior fiscalização durante o processo de desenvolvimento. “Desde então, implementamos testes muito mais rigorosos e frequentes de diversas maneiras”, explicou Hulst. A vantagem de cada falha, ele observou com uma pitada de pragmatismo, “é que as pessoas agora entendem o quão necessária é essa [supervisão]”.
Em outras palavras, o susto de Concord serviu como um poderoso despertador. Não se trata apenas de apertar os cintos, mas de uma mudança cultural que visa identificar e corrigir rumos antes que o custo do erro se torne proibitivo. A ironia de uma empresa com o calibre da Sony ter que reaprender uma lição tão básica em gestão de projetos não passa despercebida, mas a humildade em admitir a necessidade de mudança é, no mínimo, louvável.
O Paradoxo do “Falhar Cedo e Barato”
Hulst não esconde a ambição da Sony de que seus estúdios PlayStation continuem a “arriscar alto” na concepção de futuras franquias. No entanto, o desejo é que, quando os fracassos ocorrerem – pois eles inevitavelmente ocorrerão –, sejam detectados em estágios iniciais e com um custo significativamente menor. “Não quero que as equipes joguem sempre pelo seguro”, afirmou Hulst. “Mas gostaria que nós, quando falhamos, falhássemos cedo e barato.”
Essa filosofia de “fail fast, fail cheap” (falhar rápido, falhar barato) é um mantra comum no mundo das startups e do desenvolvimento de software ágil, mas sua aplicação em megaprojetos de jogos AAA é um desafio complexo. Envolve desde prototipagem rápida e extensos testes internos com feedback constante, até talvez a revisão de como “grandes apostas” são inicialmente concebidas e financiadas. Significa que, idealmente, um “Concord” nunca mais deveria chegar ao público; ele deveria ter sido descartado ou drasticamente reformulado bem antes do lançamento, economizando milhões e preservando a reputação.
A Aposta nos Live-Service Continua, Mas com Nova Visão
Apesar do revés, a Sony reafirmou seu compromisso com os títulos de jogos como serviço (live-service). Hulst, contudo, minimizou a importância da quantidade de jogos desse gênero no portfólio, enfatizando a qualidade e a diversidade. “O que é importante para mim é ter um conjunto diversificado de experiências para os jogadores e um conjunto de comunidades”, disse ele.
Essa é uma perspectiva crucial. Em um mercado saturado de jogos live-service que competem por atenção e tempo do jogador, a simples inundação de títulos não garante sucesso. O diferencial estará na capacidade de criar mundos envolventes, mecânicas inovadoras e, principalmente, comunidades leais. O foco muda de “ter muitos” para “ter os certos”, aqueles que realmente ressoam com o público. É uma jogada inteligente, reconhecendo que a fadiga de live-service é real e que apenas o excepcional sobreviverá.
O Caso Bungie e o Futuro de Marathon: Sob a Sombra de Concord?
A discussão sobre live-service na Sony naturalmente nos leva a Marathon, o próximo grande lançamento da Bungie, estúdio adquirido pela PlayStation por uma soma considerável. O título já enfrenta comparações desfavoráveis com Concord e foi adiado indefinidamente em junho. Relatos recentes sugerem que a Bungie estaria perdendo parte de sua independência para os PlayStation Studios, e o anúncio da saída de Pete Parsons, CEO de longa data, após duas décadas na empresa, adiciona uma camada de incerteza a este cenário.
Marathon é aguardado antes do final do ano fiscal da Sony, que se encerra em 31 de março de 2026. A pressão é imensa. Não apenas precisa ser um sucesso para justificar a aquisição da Bungie, mas também para provar que as “novas regras” de supervisão e desenvolvimento da Sony estão funcionando. O destino de Marathon se tornou, para muitos, um barômetro da capacidade da PlayStation de aprender com seus erros e executar sua nova estratégia. O que antes era uma aquisição de prestígio, agora se parece com um teste de fogo para a nova metodologia da Sony.