Concord: O Fracasso Que Reuniu a Sony Para Uma Nova Abordagem de Desenvolvimento

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A indústria de jogos eletrônicos é um campo de batalha implacável, e até mesmo gigantes como a Sony não estão imunes a reveses. O ano de 2024 marcou um ponto de virada com o encerramento prematuro de Concord, um shooter live-service que, após meras duas semanas de vida, tornou-se um dos mais notórios fracassos da PlayStation. Longe de ser apenas um erro custoso, este evento catalisou uma reavaliação profunda nas estratégias de desenvolvimento da empresa, prometendo uma era de supervisão mais rigorosa e, surpreendentemente, a busca por “falhar cedo e barato”.

A Lição de Concord: Mais Olhos no Processo

Hermen Hulst, CEO da divisão de estúdios da Sony Interactive Entertainment, foi categórico ao Financial Times: a principal lição extraída do meteórico declínio de Concord é a necessidade premente de uma maior fiscalização durante o processo de desenvolvimento. “Desde então, implementamos testes muito mais rigorosos e frequentes de diversas maneiras”, explicou Hulst. A vantagem de cada falha, ele observou com uma pitada de pragmatismo, “é que as pessoas agora entendem o quão necessária é essa [supervisão]”.

Em outras palavras, o susto de Concord serviu como um poderoso despertador. Não se trata apenas de apertar os cintos, mas de uma mudança cultural que visa identificar e corrigir rumos antes que o custo do erro se torne proibitivo. A ironia de uma empresa com o calibre da Sony ter que reaprender uma lição tão básica em gestão de projetos não passa despercebida, mas a humildade em admitir a necessidade de mudança é, no mínimo, louvável.

O Paradoxo do “Falhar Cedo e Barato”

Hulst não esconde a ambição da Sony de que seus estúdios PlayStation continuem a “arriscar alto” na concepção de futuras franquias. No entanto, o desejo é que, quando os fracassos ocorrerem – pois eles inevitavelmente ocorrerão –, sejam detectados em estágios iniciais e com um custo significativamente menor. “Não quero que as equipes joguem sempre pelo seguro”, afirmou Hulst. “Mas gostaria que nós, quando falhamos, falhássemos cedo e barato.”

Essa filosofia de “fail fast, fail cheap” (falhar rápido, falhar barato) é um mantra comum no mundo das startups e do desenvolvimento de software ágil, mas sua aplicação em megaprojetos de jogos AAA é um desafio complexo. Envolve desde prototipagem rápida e extensos testes internos com feedback constante, até talvez a revisão de como “grandes apostas” são inicialmente concebidas e financiadas. Significa que, idealmente, um “Concord” nunca mais deveria chegar ao público; ele deveria ter sido descartado ou drasticamente reformulado bem antes do lançamento, economizando milhões e preservando a reputação.

A Aposta nos Live-Service Continua, Mas com Nova Visão

Apesar do revés, a Sony reafirmou seu compromisso com os títulos de jogos como serviço (live-service). Hulst, contudo, minimizou a importância da quantidade de jogos desse gênero no portfólio, enfatizando a qualidade e a diversidade. “O que é importante para mim é ter um conjunto diversificado de experiências para os jogadores e um conjunto de comunidades”, disse ele.

Essa é uma perspectiva crucial. Em um mercado saturado de jogos live-service que competem por atenção e tempo do jogador, a simples inundação de títulos não garante sucesso. O diferencial estará na capacidade de criar mundos envolventes, mecânicas inovadoras e, principalmente, comunidades leais. O foco muda de “ter muitos” para “ter os certos”, aqueles que realmente ressoam com o público. É uma jogada inteligente, reconhecendo que a fadiga de live-service é real e que apenas o excepcional sobreviverá.

O Caso Bungie e o Futuro de Marathon: Sob a Sombra de Concord?

A discussão sobre live-service na Sony naturalmente nos leva a Marathon, o próximo grande lançamento da Bungie, estúdio adquirido pela PlayStation por uma soma considerável. O título já enfrenta comparações desfavoráveis com Concord e foi adiado indefinidamente em junho. Relatos recentes sugerem que a Bungie estaria perdendo parte de sua independência para os PlayStation Studios, e o anúncio da saída de Pete Parsons, CEO de longa data, após duas décadas na empresa, adiciona uma camada de incerteza a este cenário.

Marathon é aguardado antes do final do ano fiscal da Sony, que se encerra em 31 de março de 2026. A pressão é imensa. Não apenas precisa ser um sucesso para justificar a aquisição da Bungie, mas também para provar que as “novas regras” de supervisão e desenvolvimento da Sony estão funcionando. O destino de Marathon se tornou, para muitos, um barômetro da capacidade da PlayStation de aprender com seus erros e executar sua nova estratégia. O que antes era uma aquisição de prestígio, agora se parece com um teste de fogo para a nova metodologia da Sony.

O fracasso de Concord, embora doloroso, parece ter sido um catalisador vital para a Sony. A promessa de supervisão mais rigorosa, a busca por “falhar cedo e barato” e a redefinição do compromisso com o ecossistema live-service indicam uma postura mais cautelosa, mas não menos ambiciosa. A indústria observa, com grande interesse, como esses aprendizados se manifestarão nos próximos lançamentos, especialmente em Marathon. O futuro da PlayStation, em grande parte, dependerá de sua capacidade de transformar uma dolorosa derrota em uma estratégia de vitória, navegando com astúcia nos mares turbulentos do desenvolvimento de jogos modernos.

Lucas Meireles

Lucas Meireles, 26 anos, atua como jornalista especializado em eSports no Recife. Focado principalmente na cobertura de Free Fire e Mobile Legends, ele se destaca por suas análises táticas e entrevistas com jogadores emergentes. Começou sua carreira em um blog pessoal e hoje é reconhecido por sua cobertura detalhada de torneios mobile.

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