Um episódio recente envolvendo o departamento de design gráfico da Xbox reacendeu um debate bastante atual: o uso de Inteligência Artificial em campos criativos, especialmente no contexto de contratação. Mike Matsel, que ocupa uma posição de liderança na equipe gráfica da Xbox, publicou um anúncio de vaga para reforçar seu time. Até aí, nada incomum. O que chamou (e muito) a atenção – e gerou uma enxurrada de críticas – foi a escolha da imagem para ilustrar a oportunidade de emprego: uma arte gerada por Inteligência Artificial.
A imagem em questão, que supostamente retratava uma pessoa trabalhando em um computador, rapidamente se tornou um exemplo clássico (e, para muitos, lamentável) das limitações atuais das IAs geradoras de imagem. Observadores atentos e profissionais da área não perdoaram: a arte continha falhas típicas, como distorções e, notavelmente, texto aparecendo invertido na tela do monitor. O uso de uma imagem de baixa qualidade técnica e com erros grotescos para anunciar uma vaga em um departamento de design gráfico foi amplamente interpretado como um desrespeito à profissão e aos próprios candidatos.
A reação na comunidade online e entre os profissionais de design foi imediata e majoritariamente negativa. Muitos expressaram frustração e decepção. Argumentaram que a escolha de uma imagem gerada por IA, especialmente uma com falhas visíveis, por parte de quem está contratando designers, demonstrava uma falta de apreço pelo talento humano, pela habilidade técnica e pelo olhar crítico que distinguem o bom design. A decisão levantou questões sobre o julgamento do líder do departamento e sua capacidade de avaliar a qualidade visual, um ponto crucial para quem busca talentos na área.
Este incidente, embora focado em design, ecoa outras situações recentes envolvendo figuras da Xbox e sugestões polêmicas sobre o uso da IA. Não faz muito tempo, outro executivo da empresa sugeriu que funcionários recém-demitidos procurassem apoio psicológico em ferramentas de Inteligência Artificial. Aquela sugestão, vista por muitos como insensível em um momento delicado, também gerou forte repercussão negativa e a publicação foi rapidamente apagada. Esses casos, separados por áreas e contextos, parecem sinalizar uma certa dificuldade de algumas lideranças em calibrar o uso e a sugestão de ferramentas de IA de forma adequada e respeitosa, especialmente em situações que envolvem aspectos fundamentalmente humanos como o trabalho criativo e o bem-estar emocional.
No fim das contas, a polêmica da vaga de design da Xbox serve como um lembrete irônico: ao procurar profissionais cuja função é criar imagens de alta qualidade e impacto, talvez a melhor abordagem não seja ilustrar o anúncio com algo que a própria IA gerou de forma defeituosa. O episódio ressalta a importância contínua do talento humano, da curadoria e do bom senso, qualidades que a Inteligência Artificial ainda está longe de dominar – e que, aparentemente, a Xbox precisa contratar.
