Uma notícia financeira que abalou o mundo dos videogames no final de setembro: a Electronic Arts (EA) se prepara para ser privatizada em um negócio monumental de US$ 55 bilhões. Contudo, essa transação, que marca a maior aquisição alavancada (LBO) da história, traz consigo uma dívida assombrosa de US$ 20 bilhões. Para analistas do setor, a conta para quitar esse montante gigantesco pode ser paga com a venda de estúdios renomados e demissões massivas.
A Enorme Dívida e a Estratégia de “Emagrecimento”
A aquisição da EA por um novo grupo de propriedade, que inclui o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita, a Affinity Partners de Jared Kushner e a Silver Lake, promete um futuro “privado” para a gigante dos games. No entanto, para chegar lá, a empresa terá de nadar em um mar de dívidas. Como bem observou o presidente da DFC Intelligence, David Cole, para o Polygon, LBOs são historicamente seguidos por cortes e pela venda de ativos não essenciais no curto prazo. A lógica é fria e puramente financeira: gerar caixa para cobrir o passivo.
BioWare: De Lenda a Candidata à Venda?
O estúdio responsável por obras-primas como Mass Effect e Dragon Age, a BioWare, é apontado como um dos principais candidatos a ser negociado. Por quê? A década recente do estúdio foi marcada por desafios e, em alguns casos, por tropeços. O desempenho de Dragon Age: The Veilguard (anteriormente conhecido como Dreadwolf) teria ficado aquém das expectativas da EA, resultando em demissões em massa.
Embora uma equipe menor esteja trabalhando no próximo título de Mass Effect, a aposta dos analistas é que essa franquia ainda lendária possa ser o principal atrativo para um comprador interessado. É a ironia do capitalismo: um legado criativo se transforma em uma “moeda de troca” no balanço financeiro.
DICE e Battlefield 6: A Espada de Dâmocles sobre um FPS
A DICE, desenvolvedora do aclamado modo multiplayer de Battlefield, encontra-se em uma situação peculiar. Atualmente, a EA está despejando todo o seu poder promocional em Battlefield 6, um título crucial na eterna batalha contra a franquia Call of Duty da Activision. Isso sugere que a DICE pode estar, por enquanto, a salvo de uma venda.
Contudo, a tranquilidade é provisória. Analistas alertam que se Battlefield 6 não entregar o desempenho esperado, a situação pode mudar drasticamente. A pressão é imensa: o sucesso do jogo pode significar a sobrevivência do estúdio sob o guarda-chuva da EA, enquanto um fracasso pode empurrá-lo para o bloco de negociações.
Maxis e The Sims: O Pato de Ouro com um Alerta Amarelo
No meio de tanta incerteza, a Maxis, estúdio por trás do fenômeno The Sims 4, parece ser um porto seguro. O jogo é um dos maiores geradores de receita da EA, o que a torna uma candidata improvável para a venda. Afinal, quem se desfaz de uma galinha dos ovos de ouro?
No entanto, nem mesmo a Maxis está 100% protegida. David Cole sugere que, se uma oferta “premium” for feita por um comprador externo, até mesmo a criadora de The Sims poderia ser vendida. É um lembrete de que, no mundo dos LBOs, cada ativo tem um preço e, às vezes, um preço muito tentador para ser recusado.
A Lógica Fria e o Futuro Incerto
Cole resume a situação: “No longo prazo, isso pode permitir que uma empresa como a EA se concentre em empreendimentos mais criativos e arriscados, pois não está mais refém dos acionistas públicos. Mas, no curto prazo, esperamos que eles se concentrem mais nos geradores de dinheiro essenciais e busquem o valor máximo para IPs/produtos `secundários`.”
É crucial lembrar que este mega-negócio ainda não foi finalizado e pode não ser concluído antes do ano fiscal de 2027 da EA, que começa em abril de 2026. Há uma longa lista de propriedades intelectuais e estúdios sob a alçada da EA, e o que acontecerá a seguir é, em grande parte, uma incógnita. Para os jogadores, a esperança é que, em meio a toda essa movimentação financeira, a qualidade e a inovação dos jogos não se percam. O futuro de alguns dos nossos universos virtuais mais amados está, literalmente, na mesa de negociações.