O universo dos esports, que um dia se resumia a torneios informais onde a premiação máxima era uma assinatura anual de revista, floresceu em uma indústria multibilionária. Hoje, ele não apenas define o ápice da competição digital, mas também impulsiona a inovação tecnológica e molda carreiras para milhões de entusiastas ao redor do globo. Ninguém melhor para discutir essa transformação do que Jeff Chau, Diretor Global de Esports da Razer, uma marca que, desde 1998, tem sido uma força motriz nos bastidores e nos palcos deste espetáculo digital.
A Revolução dos Periféricos: Quando o Milissegundo Importa
Os esports não são apenas uma história de jogadores talentosos; são, em sua essência, uma narrativa de tecnologia. Chau destaca como a evolução dos periféricos acompanha de perto a sofisticação dos jogos e as demandas dos atletas. Longe vão os dias dos mouses pesados e com fio de 150 gramas, como os da era do StarCraft. A competição moderna exige leveza, precisão sem fio e baterias que duram uma eternidade – ou pelo menos, o suficiente para um torneio inteiro.
O lançamento do mouse DeathAdder V4 Pro da Razer é um testemunho dessa inovação. Desenvolvido em colaboração com profissionais de Counter-Strike, ele incorpora 150 horas de autonomia de bateria, um padrão da indústria. Chau observa, com uma pitada de fascínio técnico, que “para os profissionais de esports, cada milissegundo conta. É por isso que trabalhamos tão de perto com eles, pois estão tão sintonizados com essas mudanças.” É um mundo onde a ergonomia de um mousepad ou o feedback tátil de um teclado podem ser a diferença entre a glória e a derrota, e onde a tecnologia deve “adaptar-se” às novas demandas de jogos, de MOBAs isométricos a atiradores de ação verticais.
Os Jogadores como Ícones e Forças de Mercado
Se a tecnologia é o motor, os jogadores são as estrelas que pavimentam o caminho. Nomes como Lee `Faker` Sang-hyeok (League of Legends) e Nikola `NiKo` Kovač (Counter-Strike 2) transcendem o status de meros atletas para se tornarem ícones culturais, `GOATS` (Greatest Of All Time) que inspiram legiões. A Razer compreende profundamente esse fenômeno, utilizando uma estratégia de `marketing de produto de personalidade` que envolve parcerias com organizações e, claro, com esses jogadores lendários.
A colaboração de dez anos com Faker, coroada com o lançamento de uma edição especial do mouse Viper V3 Pro Faker, não é apenas um feito de marketing; é uma celebração da simbiose entre atleta e tecnologia. O sucesso estrondoso de ativações como o evento na sede da Razer em Singapura, que ultrapassou a capacidade máxima, demonstra o poder de engajamento que essas personalidades exercem. Para uma marca, “ver um jogador como Faker ou NiKo usando nossos mouses e vencendo é uma prova de marketing,” afirma Chau.
O Reconhecimento Oficial: De Hobby a Carreira Legítima
A seriedade dos esports atingiu patamares nunca antes imaginados, com o reconhecimento oficial de governos e instituições globais. O Comitê Olímpico Internacional, em 2025, anunciou os Jogos Olímpicos de Esports para 2027, um movimento que, apesar de algumas controvérsias geopolíticas, solidifica o lugar dos jogos competitivos no cenário esportivo mundial. Os Jogos Asiáticos já incluem os esports como evento de medalha desde 2020, com a Coreia do Sul, pioneira na profissionalização dos esports, oferecendo até mesmo isenção do serviço militar para atletas que conquistam medalhas de ouro.
“Os governos desempenharam um papel enorme, sabe, da China a Singapura, a muitos países. Alguns, como a Coreia, tornaram-no uma profissão oficial. Acho que a Alemanha anunciou recentemente que é uma atividade sem fins lucrativos. Na Coreia [do Sul], se você compete nos Jogos Asiáticos em esports, eles realmente o isentam do serviço militar. Então, os governos realmente elevaram os esports a uma capacidade mais profissional. Crescendo, eu nunca teria imaginado que isso seria possível.” — Jeff Chau
A transformação é notável: o que antes era visto como um passatempo para poucos, agora é uma rota de carreira legítima e reconhecida em nível internacional. É quase irônico pensar que, décadas atrás, ser um “gamer” era um nicho, e hoje pode significar a ausência de um uniforme militar. Uma verdadeira ascensão social – e profissional – do controle remoto à medalha de ouro.
*Na Coreia do Sul, jogadores que conquistam medalha de ouro em eventos de esports nos Jogos Asiáticos podem ser dispensados do serviço militar completo, em reconhecimento por trazerem prestígio nacional. Faker foi um dos beneficiados após vencer no League of Legends nos Jogos Asiáticos de 2022.
O Futuro dos Esports: AI e Novas Fronteiras
Olhando para frente, a Razer vê um futuro onde a Inteligência Artificial (IA) desempenha um papel crucial, especialmente para novos jogadores. Com a curva de aprendizado de títulos cada vez mais complexos, programas de coaching baseados em IA, como o Project AVA – lançado pela Razer na CES 2025 –, analisam o desempenho e oferecem feedback pós-partida, agindo como um assistente pessoal para aprimorar as habilidades dos jogadores.
Chau explica a visão da Razer: “Queremos ajudar os gamers a melhorar em seus jogos. E é por isso que estamos focando em como a IA pode ajudar os jogadores a aprender o jogo e jogá-lo melhor, quando se trata de coaching e coisas do tipo. Quanto mais jogadores se tornam gamers hardcore e entusiastas, melhor para os negócios da Razer, certo?”
O cenário futuro dos esports, segundo Chau, será um equilíbrio entre a estabilidade de títulos estabelecidos como Counter-Strike, que mantêm milhões de jogadores ativos diariamente, e a volatilidade de novos fenômenos. Jogos como Marvel Rivals, que, poucos meses após o lançamento, já estabeleceram um circuito competitivo com um prêmio total de US$ 3 milhões, mostram a velocidade com que novas cenas e interesses podem surgir. A estratégia da Razer é simples, mas poderosa: “Siga o mercado, siga os jogadores, siga os fãs, e então continue a apoiar, crescer e amplificar isso.”
Em suma, os esports são um ecossistema dinâmico onde tecnologia, talento humano e reconhecimento institucional se entrelaçam. A Razer, com sua incessante busca por inovação e sua profunda conexão com a comunidade gamer, não apenas observa essa evolução, mas a molda ativamente, garantindo que o futuro dos jogos competitivos seja tão emocionante e imprevisível quanto o jogo em si.