A tarefa de seguir um gigante é, por si só, um desafio colossal. Quando esse gigante atende pelo nome de Ghost of Tsushima, um dos jogos mais aclamados e amados da geração passada do PlayStation, a pressão sobre os ombros da Sucker Punch Productions se torna quase palpável. Agora, com Ghost of Yotei, sua aguardada sequência, a pergunta que ecoa na mente dos fãs é: será mais do mesmo, ou uma evolução digna do legado? Os diretores Jason Connell e Nate Fox, em uma recente entrevista, desvendam os bastidores dessa delicada dança entre o familiar e o inovador.
O Peso da Coroa: Gerenciando o Sucesso e as Expectativas
O sucesso estrondoso de Ghost of Tsushima pegou a própria equipe de surpresa. A paixão colocada no projeto, enraizada no amor por filmes de samurai, ressoou com milhões de jogadores, transformando a Sucker Punch em um nome ainda mais proeminente no cenário AAA. Connell e Fox admitem que essa aclamação trouxe uma nova camada de pressão. De repente, a internet se encheu de fotos do “modo fotografia” e de transmissões ao vivo, expondo cada detalhe – amado ou detestado – à vista de todos. Fox descreve essa transparência como “inspiradora”, um feedback instantâneo que antes era inimaginável.
“Agora conseguimos ver onde acertamos e onde erramos, e isso afeta como escolhemos trabalhar no próximo jogo. Antes, você fazia algo, jogava por cima de uma cerca e esperava que as pessoas gostassem.”
– Nate Fox
Essa nova dinâmica, no entanto, apenas amplificou uma característica já intrínseca ao estúdio: a autocrítica implacável. “Nossa linguagem de amor é a crítica construtiva,” brinca Fox, enquanto Connell complementa, “Toda semana.” Essa paixão por aprimoramento contínuo é o motor por trás de Ghost of Yotei.

A Filosofia “Familiar, Mas Fresco”: Uma Receita para o Sucesso?
O dilema central de qualquer sequência é como evoluir sem alienar a base de fãs. Para a Sucker Punch, a solução reside na filosofia “Familiar, Mas Fresco”. Isso significa identificar os “pilares” inegociáveis de Ghost of Tsushima e, então, construir “arenas” para a inovação. Quais são esses pilares?
- Combate de precisão letal: Aquele sentimento visceral de ser um samurai implacável.
- Direção de arte inspirada no cinema samurai: Um mundo deslumbrante, estilizado, que transcende o mero fotorrealismo.
- Representação autêntica do Japão Feudal: Cercar-se de consultores para garantir a fidelidade cultural.
A partir desses alicerces, a equipe buscou a “frescura”. O estilo de arte, por exemplo, permanece fiel, mas é aprimorado com linhas de visão vastamente mais longas e uma qualidade de renderização superior. “Alguns podem dizer: `Ah, parece o último`,” comenta Connell, com um toque de ironia. “E eu digo: `Sim, amamos o estilo de arte do último. Acho que é parte integrante`.”
O Combate Elevado e a Exploração Recompensadora
No quesito combate, Ghost of Yotei não se limita a adicionar um novo truque. Enquanto Tsushima tinha quatro posturas, Yotei expande para cinco, mas com uma reviravolta: cada postura agora corresponde a uma arma corpo a corpo diferente. A Kusarigama, por exemplo, não é apenas visualmente distinta; ela oferece ataques de área eficazes contra grupos e pode ser usada para empurrar inimigos de penhascos. “É uma aplicação de ferramentas muito mais ampla do que tínhamos em Tsushima,” explica Fox, “mas o fundamento é o mesmo estilo de precisão letal.”
A exploração também recebe uma atenção especial. A Sucker Punch quer recompensar tanto o jogador que segue a “rota dourada” da história principal quanto o explorador incansável que busca cada segredo. Para isso, o exaustivo diário de missões foi substituído por “cartões de pistas”, que fornecem dicas visuais e contextuais, incentivando a descoberta orgânica. O sistema de “Senseis de Armas”, que precisam ser caçados e ter um relacionamento construído, é outro exemplo de como o jogo celebra a exploração.

Atsu e a Mitologia Onryo: Uma Nova Jornada Espiritual
Se Jin em Tsushima era sobre um samurai que sacrificava seu código para se tornar um “Fantasma”, Atsu em Ghost of Yotei traça um caminho diferente. Ela começa como uma mercenária, sem código de honra, impulsionada por uma caçada implacável aos “Seis de Yotei”. Sua tenacidade e capacidade de superar adversidades levam as pessoas de Ezo a vê-la como um Onryo, um espírito de vingança ou monstro de conto folclórico.
Mas, como aponta Fox, a transformação de Atsu não é sobre ela se tornando mais Onryo, mas sobre como essa identidade a molda. É uma jornada de uma “loba solitária” quebrada, que não se importa se vive ou morre, para alguém que gradualmente forma sua própria “alcateia” (simbólica e literalmente, com um companheiro lobo). É uma história única, abordando uma faceta diferente do que significa ser um “fantasma” no Japão feudal. A introdução de um sistema de “memórias”, onde os jogadores podem reviver momentos da juventude de Atsu em áreas específicas, serve para humanizá-la e permitir que o jogador entenda a profundidade de sua perda e motivação.
Beleza Técnica e Colaborações Artísticas Inesperadas
Visualmente, Ghost of Yotei promete ser um espetáculo. Sem entrar em detalhes específicos sobre o PS5 Pro (que serão revelados futuramente), Connell menciona melhorias como renderização nativa em 4K, cabelo e pele aprimorados, e o impressionante sistema de deformação de neve e lama. Imagine a satisfação quase sádica de ver cada passo e cada golpe de espada deixar sua marca detalhada na neve fresca!
E a cereja no bolo? A colaboração com Shinichiro Watanabe, o lendário diretor de animes como Cowboy Bebop e Samurai Champloo, para a trilha sonora. A ideia surgiu da observação de como os fãs de jogos de samurai frequentemente colocavam “lo-fi beats” sobre suas transmissões. Watanabe-san, empolgado com a proposta, já criou faixas originais e remixes da partitura do jogo, prometendo uma experiência sonora tão única quanto o próprio jogo.

Liberdade para o Jogador: Um Jogo para Todos os Estilos
Um dos aspectos mais celebrados de Ghost of Tsushima foi a liberdade de escolha do jogador, seja no combate (samurai honrado vs. fantasma furtivo) ou na exploração. Ghost of Yotei aprofunda essa filosofia. Connell assegura que, embora Atsu não seja “sobrecarregada pelo senso de como se deve atacar honradamente”, tanto a furtividade quanto o combate frontal são totalmente viáveis. A dança entre ataques à distância, furtividade e combate corpo a corpo é o que oferece a verdadeira liberdade. A Sucker Punch não quer “empurrar” o jogador para um estilo específico, mas sim “celebrar” todas as formas de jogar.
Seja você um estrategista furtivo, um combatente ágil, um arqueiro preciso ou um explorador incansável que passa horas no modo fotografia, Ghost of Yotei parece estar sendo moldado para abraçar sua preferência. É um convite para mergulhar em um Japão feudal deslumbrante e brutal, guiado pela sua própria vontade.
Com lançamento previsto para outubro, Ghost of Yotei se posiciona não apenas como uma sequência, mas como uma evolução cuidadosa. A Sucker Punch parece ter encontrado a fórmula para honrar o passado enquanto forja um futuro empolgante, prometendo uma aventura que é ao mesmo tempo familiar e deliciosamente inovadora. Resta saber se essa delicada balança realmente se converterá em mais um marco para o PlayStation.