No universo dos videogames, onde a nostalgia muitas vezes pavimenta o caminho para a glória, há momentos em que até os mestres mais renomados sentem o chamado da inovação. Recentemente, a notícia da saída de Hideaki Itsuno da Capcom, após três décadas de contribuições lendárias, ecoou como um trovão. O arquiteto por trás de sucessos estrondosos como Devil May Cry e Dragon`s Dogma, Itsuno não apenas encerrou um capítulo, mas abriu um novo, impulsionado por uma busca incessante: a liberdade criativa.
A `Última Chance` Para Reinventar
A decisão de Itsuno não foi um adeus abrupto, mas uma reflexão estratégica sobre o próprio legado. Em suas palavras, a oportunidade oferecida pela Lightspeed de criar um novo jogo AAA era “boa demais para recusar” – uma verdadeira “última chance” de desafiar-se. Para quem passou anos lapidando franquias que se tornaram ícones, a ideia de ficar “preso” na produção de um Devil May Cry 6 ou 7, por mais atraente que possa parecer para os fãs, representava um paradoxo: o sucesso de suas criações começava a limitar sua própria criatividade.
É uma ironia sutil, mas poderosa, no mundo do entretenimento. Criar obras-primas que os fãs imploram por mais pode, eventualmente, tornar-se uma espécie de algema dourada. Itsuno, com a sabedoria de quem já fez o que queria com Devil May Cry 5 e Dragon`s Dogma 2, reconheceu que o tempo é um recurso finito. Um ciclo de desenvolvimento de quatro a cinco anos para uma sequência seria tempo demais para investir em algo que já sentia ter explorado plenamente, quando o desconhecido acenava com promessas de novas ideias.
O Renascimento de um Sonho: A Equipe dos Sonhos em Osaka
A nova jornada de Itsuno na Lightspeed não é um voo solo. O que torna essa transição ainda mais emocionante é o reagrupamento de talentos. Vários desenvolvedores de peso da Capcom, com quem Itsuno construiu uma parceria sólida ao longo de décadas, estão se juntando a ele no segundo estúdio da Lightspeed em Osaka, Japão. Nomes como o artista conhecido como Bengus, o escritor de Devil May Cry, Toshihiro Nakagawa, e o designer de personagens Daigo Ikeno, estão entre os que embarcaram nesta nova aventura.
“É bom poder trabalhar com pessoas em quem confio, como o Sr. Nakagawa”, disse Itsuno, destacando a importância da química e da compreensão mútua. Essa colaboração não é apenas uma reunião de antigos colegas, mas a formação de uma “equipe dos sonhos” com um objetivo comum: forjar algo verdadeiramente novo e impactante. A sinergia entre esses veteranos promete uma mistura de talentos e visões que pode dar origem a um novo clássico, longe das sombras de seus antigos sucessos.
E o Futuro dos Ícones?
Para os fãs fervorosos de Devil May Cry, a pergunta inevitável paira no ar: o que acontecerá com a franquia? Por enquanto, a Capcom não sinalizou quando ou se uma nova sequência de jogos será desenvolvida. No entanto, o legado de Devil May Cry está longe de desaparecer. A série animada na Netflix, por exemplo, já tem sua segunda temporada confirmada para 2026, garantindo que o universo de Dante e seus demônios continue vivo em outras mídias.
A partida de Itsuno é um lembrete vívido de que a indústria de videogames, embora cada vez mais focada em grandes franquias e receitas bilionárias, ainda reserva espaço para a ambição criativa e a busca por novos desafios. É a história de um artista que, em vez de descansar sobre os louros de suas conquistas, opta por rasgar o roteiro e escrever uma nova história. E nós, como espectadores e jogadores, mal podemos esperar para ver o que o próximo capítulo de Hideaki Itsuno nos reserva.