A paisagem digital da Rússia acaba de ganhar um novo contorno. Uma lei sancionada pelo Presidente Vladimir Putin torna obrigatória a pré-instalação da loja de aplicativos russa RuStore em todos os smartphones e tablets vendidos no território nacional. E sim, isso inclui até mesmo os dispositivos da Apple, conhecidos por seu ecossistema rigidamente controlado. A medida, que entra em vigor para aparelhos importados a partir de 1º de setembro, representa um passo significativo do Estado russo no controle do ambiente digital.
Mas a nova regulamentação vai além de apenas adicionar mais um ícone à tela inicial. O texto legal proíbe explicitamente qualquer condição imposta pelos fabricantes que restrinja ou impossibilite o uso de aplicativos russos e da própria RuStore. Isso significa que funcionalidades cruciais como busca, atualização, gerenciamento de configurações e até mesmo a interação com notificações de apps russos não podem ser bloqueadas ou dificultadas por parte dos fabricantes. Adicionalmente, a lei garante que os usuários tenham a liberdade de realizar compras e transações dentro desses aplicativos utilizando sistemas de pagamento russos, driblando possíveis restrições impostas por plataformas estrangeiras.
Enquanto o RuStore já encontra seu espaço naturalmente nos dispositivos com sistema operacional Android, a grande novidade e o principal desafio residem no impacto direto sobre a Apple. A gigante de Cupertino tradicionalmente mantém um controle ferrenho sobre o software que pode ser instalado em seus iPhones e iPads, limitando-o à sua própria App Store oficial. A lei russa força a Apple a abrir uma exceção notável em sua política global, permitindo a pré-instalação de uma loja de terceiros e, mais importante, garantindo que aplicativos distribuídos fora do seu canal oficial possam funcionar sem impedimentos artificiais. É uma jogada que sublinha o movimento russo por maior soberania digital e um controle mais apertado sobre as plataformas de distribuição de conteúdo e serviços dentro de suas fronteiras nacionais.
A partir de setembro, portanto, quem adquirir um novo dispositivo móvel na Rússia pode esperar encontrar o RuStore já lá, pronto para ser usado – ou ignorado, dependendo da preferência individual do usuário. No entanto, a decisão de Moscou deixa claro que, no território russo, o Estado tem a palavra final sobre o que pode (e deve) estar pré-instalado no seu gadget. Uma pequena ironia para um mercado global onde, geralmente, são as grandes corporações de tecnologia que ditam as regras de seus ecossistemas digitais.