O universo digital, com suas luzes brilhantes e promessas de conexão global, frequentemente nos apresenta uma imagem polida e aparentemente perfeita de seus protagonistas: os influenciadores. Milhões de seguidores, parcerias lucrativas, projetos sociais e uma comunicação calorosa com a audiência pintam um cenário idílico. No entanto, uma observação incômoda tem ecoado nos bastidores da internet brasileira e global: será que a autenticidade é um pré-requisito para o sucesso, ou uma mera conveniência, prontamente descartada fora dos holofotes?
A discussão ganha relevância a partir de comentários de figuras proeminentes do streaming, que questionam a verdadeira índole de muitos criadores de conteúdo. A ideia central é simples, mas perturbadora: aqueles que, na tela, parecem encarnações da bondade e da preocupação com o público, muitas vezes se revelam, na vida real, indivíduos completamente diferentes – arrogantes, interesseiros e, para usar um termo direto, desrespeitosos com a própria audiência que tanto bajulam publicamente.
Imaginem a cena: diante das câmeras, a persona digital é um modelo de virtude. Não proferem impropérios, engajam-se em causas beneficentes, e expressam um amor incondicional pelos seus fãs. Mas, nos bastidores, fora do alcance dos algoritmos e dos comentários, essa mesma pessoa se transforma. Torna-se alguém que ostenta riquezas exorbitantes com desdém, pratica atos de deslealdade pessoal e, pasmem, refere-se aos seus admiradores como “uma pilha de degenerados”. A dualidade é chocante, quase cômica em sua hipocrisia.
E aqui reside o grande paradoxo que instiga a curiosidade: por que, apesar de tudo, esses indivíduos que parecem carecer de qualquer escrúpulo moral, alcançam um sucesso avassalador? Dinheiro aos borbotões, vida social e pessoal aparentemente invejável, e uma saúde de ferro. Parece quase uma ironia cósmica. Enquanto aqueles que genuinamente tentam ser bons e íntegros enfrentam desafios constantes em suas carreiras e vidas pessoais, os “malvados” prosperam.
A teoria que emerge, com um toque de cinismo, sugere que talvez a ausência de preocupações éticas seja uma vantagem. Afinal, quem se importa com a opinião alheia ou com as consequências de seus atos, gasta energia e sofre estresse. Já o indivíduo que “não se importa com ninguém”, vive para seu próprio prazer, sem amarras morais ou o peso da consciência. E, neste cenário, a “karma” parece ser apenas uma invenção para os fracos ou uma falácia confortante. É uma perspectiva perturbadora que sugere: seja você mesmo… mas talvez o “você mesmo” mais repugnante que conseguir.
Essa análise nos convida a uma reflexão mais profunda sobre o que realmente valorizamos no consumo de conteúdo digital. Será que a busca por uma conexão autêntica com nossos criadores favoritos é uma quimera? Ou a superficialidade e o espetáculo, mesmo que mascarados pela hipocrisia, são os verdadeiros motores do engajamento massivo?
No fim das contas, a lição mais valiosa para o público talvez seja a necessidade de desenvolver um olhar mais crítico. Distinguir a persona pública da pessoa real torna-se um exercício essencial. O mundo digital é um espelho amplificado de nossas complexidades, e a busca pela autenticidade, em meio a tantas fachadas, continua sendo um desafio e, quem sabe, a verdadeira medida do sucesso duradouro e significativo.