A comunidade de League of Legends nas Américas respira aliviada. Após um ano de um experimento audacioso, a Riot Games ouviu o clamor dos fãs e anunciou o retorno das amadas ligas independentes, a LCS (América do Norte) e o CBLOL (Brasil), a partir de 2026. A ambiciosa Liga das Américas (LTA), que tentou unificar as regiões, será descontinuada, marcando o fim de uma era de complexidade e o início de um capítulo que busca reconectar as raízes regionais do esports.

O “Grande Experimento” e Suas Consequências
No final de 2024, a Riot Games havia consolidado as regiões Norte, Central e América do Sul sob a bandeira da LTA. O objetivo era nobre: criar um ecossistema competitivo mais robusto, um novo modelo de negócios focado na receita de conteúdo digital em vez de patrocínios, e uma estrutura de “uma liga, duas conferências” que, teoricamente, equilibraria a identidade local com confrontos pan-americanos. A ideia era fortalecer financeiramente as equipes e otimizar o cenário competitivo global.
No entanto, o que parecia uma solução inovadora rapidamente revelou suas rachaduras. Já em 2025, o modelo da LTA mostrava fraquezas significativas. Para os fãs, a estrutura era confusa, o calendário excessivamente apertado e, o mais importante, a identidade regional, que forjou legiões de torcedores apaixonados, estava diluída. O complexo formato, que misturava competições locais com etapas continentais, tornou-se “difícil de seguir”, nas palavras do próprio Carlos Antunes, Head de Esports de League of Legends para as Américas da Riot Games.
“Acho que é importante para os fãs que há muitas coisas que poderíamos fazer, mas agora nosso foco é entregar o que os fãs estavam perdendo e mostrar a eles a melhor solução para os problemas que estavam enfrentando,” afirmou Antunes, sublinhando a mudança de prioridade.
A Virada de Mesa: Ouvir a Comunidade é a Chave
A decisão de reverter a LTA não foi tomada levianamente, mas sim como um reconhecimento dos erros e um compromisso com a comunidade. Antunes explicou que, embora alguns aspectos da LTA tenham melhorado a competitividade em certos momentos, os problemas estruturais e a perda da conexão emocional dos fãs superaram os benefícios. Os torcedores sentiam falta de “splits regionais mais longos, mais tempo para ver suas equipes, um calendário menos apertado e menos interrupção na narrativa.”
A virada de mesa veio em meados de 2025. A Riot percebeu que o problema ia muito além da simples mudança de nome. Era a experiência geral da liga que estava comprometida. Antunes, com uma dose de humildade que muitos apreciaram, reconheceu que a Riot estava disposta a “voltar e ajustar” se a experimentação fosse longe demais. Um aceno claro de que, no fim das contas, a voz dos jogadores e torcedores prevalece.
O Destino da LLA: Uma Evolução, Não um Retorno ao Passado

Enquanto LCS e CBLOL ressurgem em suas formas clássicas, a Liga Latinoamérica (LLA) não terá um retorno idêntico. Antunes revelou que as equipes latino-americanas deram um feedback “esmagadoramente positivo” às mudanças para 2026. Em vez de uma liga separada, o foco será fortalecer o papel da América Latina dentro de um sistema unificado. As equipes veem isso como uma chance de “fortalecer sua presença”, unificar marcas e garantir mais exposição internacional para seus jogadores. Uma evolução, não uma simples regressão.
Vagas Internacionais: Um Olhar para o Passado para Construir o Futuro
Com o retorno das ligas independentes, a qualificação para eventos internacionais como First Stand, MSI e Worlds voltará ao sistema anterior à LTA. A LCS terá uma vaga no First Stand, duas no MSI e três no Worlds, enquanto o CBLOL garantirá uma vaga em cada um desses eventos. Uma decisão que, segundo Antunes, visa “reconectar com o que os fãs tinham” e servir como uma base para o crescimento futuro.
Ainda que performances recentes de equipes sul-americanas em palcos globais possam sugerir a necessidade de mais vagas, Antunes enfatiza que as prioridades regionais divergem. Para a América do Sul, o foco será em “criar mais conexões estruturadas para eventos internacionais” e “mais eventos inter-regionais fora do calendário regional”. Um caminho a ser trilhado com cautela, mas com o objetivo claro de elevar o nível competitivo.
Lições Aprendidas e a Autocrítica Necessária
A declaração de Antunes em junho de 2025, onde ele afirmou “não estamos aqui para discutir se a reformulação falhou ou não”, gerou grande controvérsia. Muitos fãs interpretaram a fala como um desdém às suas preocupações. Agora, Antunes admite que “deveria ter usado palavras diferentes”, esclarecendo que sua intenção era enfatizar que o problema era mais profundo do que a simples marca LTA. “Nunca foi apenas sobre o nome, era algo mais — a experiência maior da liga,” explicou, reconhecendo que o feedback dos fãs foi crucial para a mudança de curso.
O Futuro da Base: Competições de Nível 2 em Ascensão

Além das ligas principais, a Riot também está de olho no ecossistema de Nível 2 nas Américas. Antunes destaca que, ao contrário da Europa, onde as competições são mais distribuídas geograficamente, o Nível 2 nas Américas é mais concentrado, o que limita o crescimento de ecossistemas locais independentes. No entanto, há sinais encorajadores: muitos talentos de Nível 2 já ascenderam ao Nível 1, demonstrando o potencial da base.
Para 2026, a Riot planeja incentivar ainda mais a participação no Nível 2, buscando “mobilidade, estabilidade e oportunidade” para jogadores em ascensão. A ideia não é copiar outros ecossistemas, mas criar algo único para as Américas, com revisões nas regras de equipes de academia, formatos de competição e estrutura de calendário. Iniciativas como o “Americas Challenger”, descrito como um “MSI de Nível 2”, também são consideradas para oxigenar a cena de base.
O Fim de uma Era, o Início de Outra
O retorno do CBLOL e da LCS é mais do que uma mera mudança de nomes. É o reconhecimento da Riot de que a LTA, apesar de suas boas intenções, falhou em preservar o que os fãs mais valorizavam: a identidade regional e a paixão que permeiam o League of Legends Esports. A atitude de recuar e ajustar, mesmo que admita um erro, reforça a importância da comunidade no coração das decisões da Riot Games.
Para os fãs brasileiros e norte-americanos, o horizonte de 2026 promete um reencontro com suas narrativas, seus times e a emoção inigualável das suas próprias ligas. O futuro pode até conter novos experimentos, mas agora a lição está clara: a essência do esports está na conexão inabalável entre o jogo, as equipes e, principalmente, seus apaixonados torcedores.