O universo dos games e da cultura digital é um terreno fértil para debates acalorados, e, por vezes, opiniões que transcendem as telas para questionar os pilares da sociedade. Recentemente, Vitalii “Papich” Tsal, um conhecido streamer, adicionou mais um capítulo a essa saga, ao expressar visões bastante… peculiares sobre a estética do popular jogo Cyberpunk 2077 e, por extensão, sobre as mulheres tatuadas na vida real. O que começou como uma simples observação sobre personagens virtuais rapidamente se transformou em uma reflexão sobre padrões de beleza, modificação corporal e o que ele considera a “deterioração” do mundo moderno.
A Distopia Visual de Night City Segundo Papich
Durante uma de suas transmissões no YouTube, Papich mergulhou na vibrante, porém muitas vezes sombria, Night City de Cyberpunk 2077. Contudo, sua imersão não foi de admiração, mas sim de estranhamento e crítica contundente. “Olhem, isso é um horror”, exclamou, referindo-se aos personagens do jogo, repletos de implantes cibernéticos, tatuagens e aparências diversas. Sua perplexidade era palpável: “É como se fosse um robô ou uma pessoa, mas você não entende o que é real e o que não é. Inseriram pernas, cotovelos, joelhos, seios… e isso parece tão nojento. Um corpo irreal que deveria exibir a ilusão de juventude, mas com um rosto de 30 anos, mais tatuagens nesse corpo irreal.”
A visão do streamer sobre a “distopia” de Cyberpunk 2077 não se limitou às próteses cibernéticas. Ele criticou o que percebeu como uma uniformidade de “feiura”: “Quase todos neste jogo têm marcas, listras. Como se não houvesse pessoas normais. Todos são meio monstruosos, nojentos, todos com cabelos coloridos, todos tatuados…” Para Papich, esse é um “mundo terrível de um não-futuro”, onde a aniquilação da humanidade seria preferível a viver em tal cenário. Uma declaração um tanto dramática, para dizer o mínimo, mas que sublinha a profundidade de sua aversão.
Do Virtual ao Real: A Crítica Extrapola as Telas
A transição de suas observações sobre o jogo para uma crítica direta à realidade não demorou a acontecer. Papich traçou um paralelo inquietante entre a ficção distópica de Cyberpunk e as tendências contemporâneas. “Na verdade, estamos caminhando para isso”, ponderou. “Se você pensar bem, hoje as mulheres adoram fazer um milhão de tatuagens. Mais da metade das mulheres modernas com menos de 35 anos têm tatuagens. Todas também adoram pintar o cabelo, todas sonham com cirurgias plásticas.”
Para o streamer, essas escolhas não são meras expressões de individualidade, mas sim “estúpidas inclinações à autodestruição”. Ele chegou a chamar as pessoas que seguem essas tendências de “monstros”, afirmando que “isso não é vida, é literalmente uma imitação da vida.” Uma retórica forte, que certamente ecoa em alguns, e levanta sobrancelhas em outros. É a velha guarda digital, talvez, sentindo o peso das rápidas mudanças estéticas.
A Eterna Dança Entre o “Natural” e o “Modificado”
A explosão de opiniões de Papich, embora bastante taxativa, reacende um debate milenar: o que constitui a beleza? E, mais especificamente, qual o limite entre a expressão pessoal e a “desfiguração”? As tatuagens, por exemplo, têm uma história rica e complexa, servindo como ritos de passagem, símbolos de status, proteção espiritual ou meras obras de arte na pele em diversas culturas ao redor do globo. Longe de serem uma invenção moderna, elas acompanham a humanidade há milênios.
A percepção de “natural” versus “artificial” é, curiosamente, fluida. A maquiagem, por exemplo, é uma modificação estética amplamente aceita, assim como tinturas de cabelo e, em muitas culturas, até certas cirurgias. A linha do que é “aceitável” ou “nojento”, como Papich descreveu, parece depender mais da convenção social e da familiaridade do que de um padrão objetivo. E é aqui que a ironia se instala: em um mundo onde as próprias identidades digitais são meticulosamente construídas e filtradas, criticar a “imitação da vida” por meio de modificações físicas reais parece um paradoxo.
Streamers e a Responsabilidade da Opinião
A plataforma que permite a streamers como Papich expressar suas opiniões em tempo real também os coloca em uma posição de influência considerável. Suas palavras, por mais que sejam declarações pessoais, reverberam em comunidades vastas e podem moldar percepções, incitar discussões e, inevitavelmente, ofender alguns. A linha entre a liberdade de expressão e a disseminação de opiniões controversas que beiram o preconceito é tênue e constantemente debatida.
No fim das contas, a tirada de Papich serve como um espelho para as tensões culturais da nossa época. Entre o avanço tecnológico que nos permite sonhar com corpos cibernéticos e a liberdade individual de cada um adornar seu próprio templo biológico como bem entender, o debate sobre o que é belo, o que é natural e o que é “autodestrutivo” continua. E, como na própria Night City, a diversidade de escolhas estéticas parece ser a única constante. Talvez o “não-futuro” de Papich seja, para muitos, simplesmente o presente em evolução, com todas as suas cores, marcas e injeções de ousadia.