Em um universo paralelo dos games, o Xbox One poderia ter tido seu próprio rival para a aclamada série Uncharted da PlayStation. Uma história de ambição, espionagem e decisões estratégicas que moldaram o destino de um console e de uma franquia. Conheça o Project Ranger, o jogo que quase mudou tudo.
A Visão: Um Thriller de Espionagem com Ação Cinematográfica
Na efervescência do desenvolvimento do Xbox One, a Microsoft depositava grandes esperanças em estúdios internos para criar novas e impactantes propriedades intelectuais. Entre eles, a Black Tusk Studios — que mais tarde se tornaria a conhecida The Coalition, responsável por Gears of War — trabalhava em um projeto ambicioso. Batizado provisoriamente de Project Ranger, este título prometia ser um jogo de aventura e ação com uma pitada de thriller de espionagem, claramente inspirado na grandiosidade cinematográfica de Uncharted, mas com a adrenalina de um Missão Impossível.
A ideia era simples: criar uma experiência robusta para um jogador, repleta de exploração, combate e uma narrativa envolvente. Em vez de selvas exóticas e tesouros perdidos, o Project Ranger mergulharia no mundo da espionagem de alta tecnologia, com gadgets dignos de James Bond e perseguições de tirar o fôlego. Uma proposta que, no papel, parecia perfeita para um console buscando definir sua identidade e expandir seu portfólio de exclusivos.
Os Bastidores: Elenco, Conceitos e o Elefante na Sala (Kinect)
Para dar vida a essa visão, a Black Tusk não poupou esforços. Estudantes talentosos do Savannah College of Art and Design foram recrutados para desenvolver conceitos artísticos e ideias para os inovadores gadgets que o protagonista utilizaria. Sim, até mesmo a integração com o Kinect estava nos planos iniciais. Uma lembrança agridoce de uma época em que a Microsoft via o sensor de movimentos como uma peça central de sua estratégia — uma aposta que, como sabemos, não se concretizou como o esperado. Quem sabe quais traquitanas controladas por gestos teríamos de usar para desarmar bombas ou invadir sistemas?
O herói dessa aventura seria um personagem chamado Cole, e para dar voz e vida a ele, foi escalado o ator Liam McIntyre, atualmente reconhecido como a voz do Wolverine no aguardado Marvel’s Wolverine. Um elenco promissor para um projeto que tinha tudo para se destacar.
O Vislumbre e a Reviravolta Inesperada
Embora nunca tenha sido oficialmente anunciado, o Project Ranger fez uma aparição fugaz e quase imperceptível. Em uma apresentação do Xbox na E3 2013, o game apareceu rapidamente em um “montage” de futuros títulos, um piscar de olhos que poucos notaram, mas que hoje serve como um lembrete do que poderia ter sido. Era o vislumbre de um futuro promissor, uma faísca de esperança para os fãs que clamavam por mais variedade nos exclusivos do Xbox.
No entanto, como tantas vezes acontece no desenvolvimento de jogos, surgiram divergências criativas entre a equipe e a liderança. O ímpeto inicial diminuiu, e o projeto começou a perder força. Foi então que uma decisão estratégica crucial mudou o curso da história: a Black Tusk foi encarregada de assumir o desenvolvimento de uma nova parte da aclamada série Gears of War, sob a liderança de Rod Fergusson. Essa mudança de foco significou o fim definitivo para o Project Ranger. O ambicioso título de espionagem foi engavetado, e seus recursos e talentos foram redirecionados para a revitalização de uma franquia já estabelecida.
O Legado do Que Nunca Foi
O cancelamento do Project Ranger é um lembrete vívido das difíceis escolhas que as grandes editoras de jogos enfrentam. Entre inovar com novas ideias e apostar em IPs já consagradas, a Microsoft optou pelo caminho mais seguro e, talvez, mais lucrativo na época. Gears of War é, sem dúvida, uma franquia de peso, mas o que teria acontecido se o Xbox tivesse investido em um “Uncharted-killer” próprio?
Podemos apenas especular sobre a relevância que o Project Ranger teria alcançado. Teria se tornado um clássico? Ou teria sido apenas mais um título esquecido? A verdade é que nunca saberemos. O que resta é a história de um jogo que existiu apenas na imaginação de seus criadores e em alguns conceitos perdidos, um fantasma de um futuro alternativo para o Xbox, onde Cole e suas aventuras de espionagem poderiam ter reinado supremos. É a eterna ironia da indústria: para cada sucesso estrondoso, há uma dezena de ideias brilhantes que nunca viram a luz do dia, sacrificadas no altar das prioridades estratégicas.