Enquanto grande parte da comunidade de Dota 2 na América Latina ainda desfrutava de um sono tranquilo, o cenário competitivo global já fervilhava. O tão aguardado Clavision DOTA2 Masters 2025: Snow-Ruyi, sediado na China, deu início à sua fase de mata-mata em 31 de julho, trazendo consigo horários de transmissão que desafiam a cronobiologia ocidental. E foi justamente em um desses “madrugadas competitivas” que um dos experimentos mais peculiares da temporada se desenrolou, protagonizado por Ivan Pure~ Moskalenko no embate entre BetBoom Team e Tundra Esports. Ele escolheu Dazzle. Sim, Dazzle. Como carry.
O Paradoxo do Dazzle Carry: Uma Quimera Estratégica
Para quem está imerso no universo de Dota 2, a simples menção de “Dazzle carry” evoca uma mistura de curiosidade e ceticismo. Dazzle, o Sacerdote Sombrio, é tradicionalmente um suporte dedicado. Seu kit de habilidades é focado em cura, proteção e redução de armadura – ferramentas preciosas para manter aliados vivos e fragilizar inimigos. Posicioná-lo na linha de frente, absorvendo recursos e ditando o ritmo ofensivo, é, no mínimo, uma audácia que beira a heresia estratégica.
A teoria por trás de um Dazzle carry, em um vácuo puramente conceitual, não é totalmente desprovida de mérito. Sua habilidade Shallow Grave
(Lápide Rasa) é uma das melhores ferramentas de salvação do jogo, garantindo segundos preciosos de invulnerabilidade à morte. Poison Touch
(Toque Venenoso) oferece dano de atrito e controle, enquanto Weave
(Trama), sua ultimate, manipula a armadura de forma drástica, podendo ser um amplificador de dano insano se bem utilizado. O desafio, contudo, reside na execução e, crucialmente, no ritmo de jogo que essa escolha impõe.
O Experimento de Pure~: Entre a Visão e a Prática
No confronto contra a Tundra Esports, Pure~ assumiu o desafio de pilotar o Dazzle na função de carry. A expectativa era de uma abordagem inovadora, talvez explorando itens que potencializassem seu dano base ou sua capacidade de sobrevivência de forma atípica. No entanto, o que se viu foi um Dazzle que parecia querer ser um Terrorblade disfarçado. Pure~, conhecido por sua agressividade e capacidade de farming em heróis de dano físico, tentou moldar o Dazzle ao seu estilo habitual, focado em acumular ouro e itens como se fosse um carry convencional.
O problema fundamental, e talvez a ironia por trás desse experimento, foi a desconexão entre o potencial latente do Dazzle e a forma como ele foi utilizado. Um Dazzle carry exige uma compreensão quase filosófica de seu papel: ele não é um executor bruto, mas um facilitador que pode, com o equipamento certo e uma sinergia de equipe impecável, tornar-se um incômodo persistente e letal. Ele precisa de um jogo mais cadenciado, onde seu pico de poder talvez não seja explosivo, mas constante e irritante para o oponente.
As Consequências e a “Salvação” do Matchmaking
O resultado da partida foi um testemunho eloquente de que, embora a criatividade seja vital no Dota 2, nem toda ideia genial se traduz em vitória. A BetBoom Team, apesar do ousado pick de Pure~, não conseguiu impor a estratégia, e o Dazzle carry de Ivan Moskalenko não floresceu como esperavam. A partida foi perdida, e com ela, o sonho de ver um Dazzle carregando o time para a vitória em um dos maiores torneios do ano.
Mas há um lado positivo, e talvez seja onde reside a maior dose de ironia: a derrota de Pure~ pode ter sido uma bênção disfarçada. Imagine se essa estratégia tivesse funcionado de forma esmagadora? O matchmaking público seria invadido por jogadores tentando replicar o “Dazzle carry OP” sem o devido conhecimento de timing, sinergia e, francamente, a genialidade (ainda que falha neste caso) que existe por trás dos experimentos dos pro-players. A comunidade foi, de certa forma, salva de uma potencial praga de Dazzles carry no MMR, onde o caos já reina soberano.
Lições de um Experimento Inusitado
O Dazzle carry de Pure~ foi, sem dúvida, um momento curioso e digno de análise. Ele nos lembra que o Dota 2, mesmo após anos de evolução, ainda é um campo fértil para a experimentação. No entanto, também reforça uma verdade fundamental: nem toda inovação é bem-sucedida, e o que funciona no papel pode não se traduzir em eficácia sob a pressão de um torneio de alto nível. O “quase” sucesso de uma estratégia assim serve como um lembrete valioso de que, no fim das contas, a arte de jogar Dota 2 reside na complexa interação entre habilidade individual, estratégia de equipe e, por vezes, um toque de loucura que pode levar tanto ao brilhantismo quanto ao desastre.
Fica a pergunta: veremos Pure~ tentar uma abordagem similar no futuro, talvez com ajustes, ou este Dazzle carry será apenas uma nota de rodapé divertida na história do esports de Dota 2? Somente o tempo dirá. Mas, por agora, podemos respirar aliviados por nossos jogos ranqueados estarem seguros do Dazzle que nunca foi.