Quarteto Fantástico: A Busca da Marvel Por Uma Centelha de Gênio

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A cada novo lançamento da Marvel, somos bombardeados com a promessa de um retorno triunfal, uma nova era que reacenderá a chama de um universo cinematográfico em declínio. “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” chegou com essa mesma aura de expectativa, mas, como de costume, a realidade do conteúdo rapidamente tratou de desinflar o balão. No entanto, é preciso ser justo: este filme, em sua essência, consegue a proeza de ser o melhor já feito sobre a equipe. O problema, e talvez a ironia maior, reside na régua que lhe foi imposta.

A Régua Inatingível… De Tão Baixa

Para quem acompanhou as desventuras cinematográficas do Quarteto Fantástico ao longo das décadas, a barra de qualidade não estava apenas baixa; ela jazia completamente prostrada no chão. Lembremos da tentativa de 1994, uma produção de baixo orçamento tão infame que a própria Marvel comprou todas as cópias antes do lançamento para garantir que nunca chegasse aos cinemas. O medo de manchar a imagem da editora era palpável. Foi um enterro público antes mesmo do nascimento.

Depois vieram as versões de 2005 e 2007. Para muitos adolescentes da época, a principal memória talvez se resuma à presença de uma atriz em trajes justos. Pouco sobrou de enredo, desenvolvimento de personagem ou qualquer elemento que de fato solidificasse a equipe como a “Primeira Família” da Marvel. E, para coroar a sequência de desastres, o reboot de 2015 prometeu uma visão “sombria e realista”, entregando, na verdade, uma tela quase inteiramente escura e personagens tão cativantes quanto manequins, desprovidos de qualquer brilho. Chegou a um ponto em que o próprio filme parecia envergonhar-se de seu título.

Dez anos após o último trauma, a maldição do Quarteto Fantástico atacou novamente. “Primeiros Passos” surge neste cenário, e o que ele oferece? Pelo menos, é possível discernir o que está acontecendo em cena. E sim, ele supera os três antecessores. Um feito notável, considerando o histórico.

Um Olhar Para o Passado, Mas Com O Que Há de Novo?

Uma benção para os entusiastas de filmes de super-heróis é a decisão de abandonar a cansativa história de origem. Trinta anos de tela já bastaram para entender como Reed, Sue, Johnny e Ben ganharam seus poderes. “Primeiros Passos” adota um ritmo mais ágil, entregando uma montagem rápida de seus feitos e saltando para quatro anos após o evento que os transformou. Os heróis são celebridades, bem-sucedidos, ricos e amados – talvez até demais. O nível de doçura com que são idolatrados, até por seus supostos inimigos, oscila entre o encantador, o divertido e, por fim, o levemente perturbador, quase evocando um “Mulheres Perfeitas” em versão superpoderosa.

Contudo, nem tudo é decepção. O cenário retrofuturista é um sopro de ar fresco, uma bem-vinda mudança estilística que foge do cinza padrão da ficção científica e do neon sujo do cyberpunk. As linhas suaves, cores quentes e uma ingenuidade quase pueril conferem ao filme uma estética visualmente distinta. Em um gênero que por muito tempo se autoimpos a seriedade ou uma comédia forçada, o retorno a raízes mais vibrantes pode ser um sinal de amadurecimento, como visto em certas adaptações do Superman. É, sem dúvida, bonito. Pena que essa beleza ocasionalmente desmorone em CGI duvidoso, onde o Coisa e um bebê recém-nascido parecem ter sido gerados por uma inteligência artificial gratuita.

A Inteligência Questionável do Gênio

O maior desafio ao criar um personagem inteligente no cinema é que ele não pode ser mais esperto que seu próprio criador. Não basta vestir alguém com um jaleco e inventar um jargão como “nano-antigravidade quântica”. O personagem em si precisa exibir um intelecto que transcenda a burrice fundamental. Não que pessoas inteligentes não cometam erros, mas quando cada decisão do “homem mais inteligente do mundo” beira a completa e absoluta idiotice, talvez seja hora de questionar seu título.

A trama central gira em torno da chegada do Surfista Prateado, arauto de Galactus, que anuncia o fim da Terra. Interessantemente, nem o Surfista nem Galactus são retratados como vilões tradicionais. Ela, uma vítima das circunstâncias; ele, uma força da natureza, um cataclismo inevitável. E qual é o plano dos heróis diante dessa ameaça cósmica? Conversar. Sim, você leu certo. Conversar. Sem saber absolutamente nada sobre o inimigo que aniquila planetas inteiros, a ideia é ter um bate-papo amigável. Poderíamos chamar de “reconhecimento”, se não fosse por um detalhe… O Dr. Reed Richards decide levar sua esposa, em estágio avançado de gravidez, nessa excursão intergaláctica para encontrar o devorador de mundos. A bravura feminina é inegável, e mulheres grávidas são, de fato, fortes. Mas há uma linha tênue entre empoderamento e pura insanidade. Mandar uma gestante ao espaço profundo para confrontar uma entidade cósmica só para ela dar à luz em meio a uma perseguição frenética? Uma escolha que redefine “otimismo” para “irresponsabilidade crônica”.

A insanidade continua. O gênio Reed Richards tem uma ideia para salvar a Terra: teletransportá-la para outra parte do cosmos. O mesmo homem que mal consegue teletransportar um ovo a alguns metros! Enquanto isso, Johnny Storm, o “cabeça de vento”, surge com um plano surpreendentemente mais sensato: aprender uma frase em alienígena para tentar comover o Surfista Prateado. E, em um verdadeiro diamante roteirístico, Galactus oferece uma trégua: perdoaria a Terra em troca do recém-nascido filho de Reed e Sue, Franklin, não para devorá-lo, mas para transferir-lhe seu poder e fome. A recusa dos pais é compreensível, mas a decisão de Reed de tornar essa “proposta” pública, e a subsequente reação do mundo – um mero “bico” coletivo da humanidade em vez de uma revolta global ou uma tentativa de confiscar a criança – é de uma irrealidade que desafia a suspensão da descrença. Uma simples fala de Sue acalma toda a população. O que sugere um universo tão absurdamente bondoso que chega a ser irreal.

Maternidade em Foco e a Ausência de Conflito

Curiosamente, a única linha narrativa que de fato ressoa é a do feminismo, ou, mais precisamente, a da maternidade. O Surfista Prateado se sacrificou para salvar sua filha; Sue luta contra Galactus para proteger seu filho. Talvez por isso, em ambos os confrontos decisivos, é a figura materna que se torna a força-chave. É um toque de humanidade que, pelo menos, dá um propósito para a força dessas personagens, em vez de ser mais uma desculpa para a “donzela em perigo”.

Filmes com enredos ilógicos não são necessariamente ruins; “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” prova isso, com suas decisões questionáveis, mas que funcionam devido ao espetáculo visual e emocional. O problema de “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” é que ele não tem nada para compensar suas falhas. O design de cenário atraente e o bom elenco principal não são suficientes. As piadas são raras e inofensivas, ecoando a esterilidade do mundo retratado. A mais afiada delas é a recusa do Coisa em proferir sua frase icônica.

A ausência de emoção é gritante. Na tentativa de retratar uma família de super-heróis ideal, os roteiristas esqueceram-se de incluir conflitos. Onde estão as complexidades de Ben ao se ver um monstro? A autoconsciência de Johnny por ser um fanfarrão? A inteligência de Reed que beira a desumanidade? A busca de Sue por ser mais que apenas a “mulher bonita”? Não há atrito, não há desenvolvimento. Os poucos vislumbres de problemas (Ben apaixonado, Johnny querendo ir ao espaço, Reed socialmente desajustado, Sue superprotetora) jamais se transformam em conflitos substanciais que possam gerar qualquer tipo de ressonância emocional. Até mesmo um sacrifício final, que por um segundo parece dramático, é rapidamente desvalorizado. E a carência de personagens secundários é notável, transformando o filme em um quase monólogo de quatro vozes.

A Velha Maldição, em Novo Formato

O mais alarmante é que este novo filme recai sobre os mesmos erros dos antecessores: a ausência de ação super-heroica. Os últimos dois filmes foram severamente criticados por concentrar o pouco de ação apenas no clímax. “Primeiros Passos” “resolve” isso com a primeira briga aos 42 minutos e a segunda e última no final. Aparentemente, quando o público busca um filme de super-heróis, o que ele mais deseja é ver pessoas com superpoderes sentadas, conversando.

“Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” é um filme de super-heróis visualmente vibrante, com um elenco principal competente e um cenário retrofuturista interessante. É, sem dúvida, um dos melhores filmes da Marvel nos últimos anos e, indiscutivelmente, a melhor adaptação dos quadrinhos do Quarteto Fantástico… o que, no fim das contas, diz mais sobre o quão horríveis foram os filmes anteriores e a profundidade da crise criativa em que a Marvel se encontra.

No fundo, é um filme previsível e desprovido de coragem para assumir riscos. Tão artificial e doce quanto o mundo que retrata, carece de humor, de ação e, mais importante, de lógica interna. Por trás de uma roupagem brilhante, esconde-se mais um vazio, um eco da exaustão criativa da Marvel, que parece implorar pelo fim dos sofrimentos de seu outrora grandioso universo cinematográfico.

Gabriel Neves dos Santos

Gabriel Neves dos Santos, 34 anos, é um repórter veterano da cena de eSports em Curitiba. Com background em programação, ele traz uma perspectiva única para suas análises sobre Dota 2 e Valorant. Conhecido por suas investigações aprofundadas sobre contratos e transferências de jogadores profissionais, ele se destaca por revelar histórias exclusivas do cenário.

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