A saga cinematográfica de Resident Evil sempre foi um terreno fértil para debates acalorados entre os fãs. De um lado, tivemos uma série de seis filmes que, apesar de desviarem drasticamente da essência dos jogos, conquistaram bilhões em bilheteria, com Milla Jovovich no papel icônico de Alice. Do outro, o reboot de 2021, Resident Evil: Welcome to Raccoon City, tentou uma abordagem mais fiel e acabou tropeçando, arrecadando modestos 42 milhões de dólares globalmente.
Agora, preparem-se: o universo de Resident Evil está prestes a receber mais uma injeção de adrenalina, ou seria, de puro pavor? Um novo filme está a caminho, e quem assume as rédeas é ninguém menos que Zach Cregger, o mesmo diretor por trás dos aclamados filmes de terror Barbarian e Weapons. Uma escolha que, por si só, já gera calafrios de expectativa (ou de horror, dependendo do ponto de vista).
Zach Cregger: O Maestro do Medo Inesperado
A trajetória de Zach Cregger é, no mínimo, curiosa. Co-fundador da trupe de comédia “The Whitest Kids U` Know” e ator em sitcoms, Cregger fez uma transição notável para o gênero do horror, emergindo como um dos diretores mais bem-sucedidos da atual geração. Quem diria que o riso daria lugar aos gritos de terror? Essa metamorfose profissional culminou em uma verdadeira guerra de lances por seus talentos, que foi finalmente vencida pela Sony Pictures, o mesmo estúdio por trás das sete produções anteriores da franquia.
A participação de Cregger neste novo projeto não é apenas uma mudança de guarda; é uma declaração de intenções. Ele promete uma “carta de amor aos jogos”, uma obra que “segue as regras dos jogos” e é “obediente à sua lore”, mas que apresenta uma história completamente diferente. Uma abordagem que busca o respeito dos puristas sem se prender aos caminhos já trilhados.
Uma Visão Fiel, Mas Fresca: Diga Adeus Aos Heróis Conhecidos (Por Enquanto)
Talvez a notícia mais impactante para os aficionados seja a decisão de Cregger de não utilizar os heróis estabelecidos de Resident Evil em papéis principais. “Estou contando uma história que é uma carta de amor aos jogos e segue as regras dos jogos”, explicou Cregger. “É obediente à lore dos jogos; é apenas uma história diferente. Não vou contar a história de Leon, porque a história de Leon é contada nos jogos. Os fãs já têm isso.”
Essa escolha é estratégica. Ao invés de tentar adaptar narrativas que já existem e são amadas (e criticadas) em outras mídias, Cregger busca uma tela em branco para pintar seu próprio pesadelo. É uma “história original”, “estranha”, que “não tem nada a ver com nenhum dos outros filmes de Resident Evil”. Se ele fizer “seu trabalho, parecerá fresco, ousado e estranho”. E, convenhamos, “estranho” no universo de Resident Evil é um elogio e tanto.
Mergulhando no Horror Psicológico dos Jogos
A grande promessa de Cregger é a de recapturar o “tom de pavor” que define a experiência dos jogos, algo que, segundo ele, os filmes anteriores não conseguiram entregar. E não, ele não assistiu a nenhum deles. Uma abordagem, no mínimo, pragmática: por que olhar para trás quando se quer pavimentar um novo caminho?
O diretor descreve seu filme como uma experiência que “vive no mundo” de Resident Evil 2 e 3, mas que adere mais ao tom de Resident Evil 4. Uma mistura peculiar que parece sugerir um equilíbrio entre o horror de sobrevivência clássico e a ação tensa, mas sempre com foco no terror psicológico. Ele enfatiza que o filme “não é uma adaptação direta de nenhum jogo de Resident Evil”, e até brinca que “os próprios jogos não têm uma lore rígida e não são inflexíveis com linhas do tempo ou cenários”. Em outras palavras, ele se sente à vontade para “colorir dentro das linhas” sem ser escravo de cada vírgula da mitologia.
Cregger promete que o “percurso do espectador ao assistir a este filme será semelhante ao percurso que se tem como jogador ao jogar esses jogos. O que isso significa é que ele segue um protagonista do ponto A ao ponto B enquanto eles descem cada vez mais fundo no inferno.” Para os fãs que passaram inúmeras horas nos corredores escuros de Raccoon City, essa promessa soa como música aos ouvidos. Ou seria, como o som distante de um Licker se aproximando?
Elenco e Produção: Os Primeiros Passos
Até o momento, Austin Abrams é o único nome (provavelmente) confirmado no elenco. Abrams já trabalhou com Cregger em Weapons e, curiosamente, tem alguma experiência com zumbis de seu tempo em The Walking Dead, além de seu papel em Euphoria da HBO. Uma bagagem que, sem dúvida, será útil para enfrentar os horrores que o esperam.
As câmeras devem começar a rodar em outubro em Praga e continuar até o final de janeiro de 2026. A escolha de Praga, segundo Cregger, deve-se aos generosos incentivos fiscais e outros fatores que tornam a cidade “o lugar certo” para dar vida a essa nova visão. O filme está programado para chegar aos cinemas em 18 de setembro de 2026, convenientemente alguns meses após a franquia de jogos celebrar seu 30º aniversário. Um presente de aniversário um tanto… sangrento.
As Expectativas dos Fãs: Finalmente o Filme Que Queríamos?
Cregger é direto: “Se houver pessoas por aí que são fãs raivosos da franquia de filmes, elas provavelmente não estão realmente preparadas para o que eu vou fazer. Mas acho que os fãs dos jogos ficarão muito animados.” Essa declaração é um tiro certeiro no coração do debate. Este novo Resident Evil não busca agradar a todos, mas sim reconectar-se com a alma da série que o originou.
Com um diretor que entende o terror visceral, uma promessa de fidelidade à atmosfera dos jogos e a coragem de trilhar um caminho narrativo original, a esperança é que este seja o filme de Resident Evil que os fãs dos jogos esperavam há décadas. Será que Zach Cregger finalmente nos entregará a experiência cinematográfica de horror e sobrevivência que merecemos? Só o tempo (e os zumbis) dirão.