A indústria de videogames está em constante evolução, e a Sony, gigante por trás do PlayStation, navega por essas águas turbulentas com uma estratégia clara (ou nem tanto): o compromisso inabalável com os “jogos como serviço” (live-service games). No entanto, o recente Relatório Corporativo de 2025 da empresa revelou uma paisagem de altos e baixos, com um sucesso retumbante contrastando com um silêncio quase ensurdecedor sobre um título em particular.
A Persistência em Meio à Tempestade
A Sony declarou, sem rodeios, que “continua a cultivar sua expertise em serviços de jogos ao vivo”. Esta não é uma declaração leviana, especialmente considerando o histórico recente da empresa. Para reforçar seu ponto, a companhia apontou para títulos como MLB The Show, Helldivers 2, Gran Turismo e Destiny 2 como exemplos de sucesso em sua jornada de jogos como serviço. É uma lista que busca inspirar confiança, mas que carrega consigo as cicatrizes de tentativas menos felizes.
O grande destaque, e talvez o salvador da lavoura da Sony nesta categoria, é sem dúvida Helldivers 2. Lançado no início de 2024, o jogo não apenas quebrou recordes de vendas, tornando-se o terceiro jogo mais vendido nos EUA em seu ano, mas também reacendeu a esperança da Sony em um mercado onde tropeços eram mais comuns que triunfos. Sua chegada recente ao Xbox, junto a novas atualizações, solidificou ainda mais sua popularidade. Helldivers 2 é a prova de que, sim, a Sony pode acertar em cheio no gênero, e isso é crucial para sua persistência.
O Elefante na Sala: O Silêncio de Fairgame$
No entanto, em meio a essa reafirmação de compromisso e aos exemplos de sucesso, um nome se destacou pela sua ausência no relatório: Fairgame$. Este título, em desenvolvimento pela Haven Studios da Sony, tem sido motivo de burburinhos e preocupações. O fato de não ter sido sequer mencionado no documento corporativo – aquele que celebrava a “expertise em live-service” – é, para dizer o mínimo, digno de nota. Quase uma omissão deliberada, um piscar de olhos para quem acompanha os bastidores.
Os rumores em torno de Fairgame$ não são novos. A chefe da Haven Studios, Jade Raymond, teria deixado a equipe após aparentes preocupações com o jogo. O diretor de Fairgame$, Daniel Drapeau, também se desligou da empresa este ano. Para completar o cenário, o jogo foi supostamente adiado para a Primavera de 2026, colocando-o em uma posição delicada, próximo ao lançamento de um certo GTA 6. Uma data nada invejável para um título que já parece estar em águas turbulentas.
É intrigante que a Sony tenha se gabado de seu portfólio de jogos como serviço, incluindo Marathon de Bungie, mas convenientemente “esqueceu” de mencionar Fairgame$. Será um silêncio estratégico ou um indício de que há mais problemas sob o capô do que a empresa gostaria de admitir publicamente? A história, infelizmente, nos ensina a sermos céticos diante de tais omissões.
Embora a falta de menção não signifique necessariamente um desastre iminente, no contexto dos desafios recentes da Sony com jogos como serviço, é um sinal de alerta. Um projeto com saídas de liderança e múltiplos adiamentos que não aparece no relatório de uma empresa que tenta desesperadamente provar seu valor no gênero levanta sobrancelhas, para usar um eufemismo.
O Caminho Pedregoso e as Lições Aprendidas
A trajetória da Sony no mercado de jogos como serviço tem sido uma montanha-russa. Houve um tempo em que a empresa planejava lançar 12 títulos nesse formato nos próximos anos. Em maio de 2023, essa ambição foi drasticamente reduzida pela metade, com a gestão enfatizando o foco na qualidade sobre a quantidade. Uma decisão prudente, talvez forçada pelas circunstâncias, mas que indicava uma reavaliação da estratégia.
As cicatrizes dessa jornada incluem o cancelamento do tão aguardado jogo multiplayer de The Last of Us da Naughty Dog, em dezembro de 2023. Mas o fracasso mais espetacular foi Concord, que teve um desempenho tão pífio em seu lançamento em agosto de 2024 que a Sony rapidamente o tirou do ar e reembolsou todos os jogadores. Sua desenvolvedora, Firewalk, foi subsequentemente fechada. Mais tarde em 2024, a Sony confirmou o cancelamento de múltiplos outros projetos, incluindo uma versão live-service de God of War e outro título da Bend Studio.
O Futuro e o Equilíbrio Delicado
A Sony está numa encruzilhada. Com o sucesso inesperado de Helldivers 2, eles provaram que têm a capacidade de criar experiências multiplayer viciantes. No entanto, a lista de fracassos e cancelamentos recentes é um lembrete sombrio das armadilhas desse modelo de negócio. O compromisso é claro, a vontade de aprender com os erros parece existir, mas a execução continua sendo o grande desafio.
Enquanto a atenção se volta para títulos como Marathon, da Bungie, que foi mencionado no relatório como importante para o futuro do live-service da Sony, o destino de Fairgame$ permanece em uma zona cinzenta. Será que se tornará outro capítulo de advertência na saga da Sony com jogos como serviço, ou conseguirá, contra todas as expectativas, emergir do silêncio e provar seu valor?
A aposta da Sony em jogos como serviço é alta, e o mercado observa atentamente. O equilíbrio entre inovação, investimento pesado e a capacidade de aprender com os próprios erros será determinante para o futuro da PlayStation nesta arena competitiva.