«Vinte e dois anos se passaram». É com esta frase que Titan Quest II tenta se apresentar em seu trailer inicial. Vinte e dois anos é um período considerável. É tempo suficiente para o lançamento de três *Grand Theft Autos*, a troca de quatro presidentes, e a ascensão de tantos titãs do ARPG que é difícil enumerá-los. No entanto, se um jogador acelerar ao máximo neste novo capítulo, será apenas para colidir em alta velocidade com o abrupto final do Acesso Antecipado, seis horas depois. Perguntas como “Será que confundi o jogo?”, “Que criatura é essa?” e “Pela primeira vez na vida, lamento ter gastado meu dinheiro” ecoam na mente após a experiência. Vamos, então, descer juntos por esta espiral diabólica desde o começo.
A Nostalgia Contra a Realidade Dura do Gênero
Em sua época, o primeiro Titan Quest fez um estrondo em um cenário de ARPGs menos saturado. O jogo ostentava cenários agradáveis e uma atmosfera imersiva, além de uma casualidade que jogava a seu favor. Hoje, nada disso surpreende a audiência veterana: os “diablo-likes” com seus artifícios coloridos estão disponíveis para todos os gostos, os fãs hardcore do gênero já cultivam sua própria cultura de temporadas, leilões e outras atividades características, e para os jogadores casuais, há mil e um simuladores de tudo, menos de pão.
Nem é preciso falar da temática da Grécia Antiga: ela já foi explorada à exaustão, e é difícil imaginar uma iteração mais original do que a vista em Hades II (curiosamente, também um colega de Acesso Antecipado). Os desenvolvedores parecem ter decidido que, se os trunfos globais não funcionam, a opção mais segura é apostar na lealdade de sua base de fãs. O resultado, porém, não foi um Titan Quest II, mas sim um Titan Quest 0.5.
Um Déjà Vu de Conteúdo e a Odisseia da Otimização
Quanta coisa da primeira parte foi transplantada para cá! Variedades de monstros, os típicos campos com javalis e criptas com esqueletos, escolas de mestria em versão reduzida… Tudo isso generosamente temperado com elementos emprestados de colegas do gênero. Temos a personalização de habilidades, como em Last Epoch, e a complexidade de esquivas de Path of Exile para uma dose extra de desafio. E isso é antes mesmo de falarmos sobre o principal elemento de dificuldade: a parte técnica.
Como sabemos, Hércules não tinha problemas de otimização quando estrangulava o Leão da Nemeia. Assim, em Titan Quest II, decidiram não adicioná-la: 30 FPS em um hardware razoável me sentenciaram à derrota repetidas vezes. Travamentos frequentes em meio a multidões de monstros, colisão com texturas resultando em morte por AoE de chefes, animações de ataques inimigos que se teletransportam – este é apenas o “kit básico” mais superficial com o qual você terá que lutar contra os inimigos mitológicos.
Não há muitos outros tipos de inimigos, aliás. Todo o Acesso Antecipado mal consegue reunir dez variedades de oponentes. Sim, alguns deles possuem habilidades especiais, mas as dificuldades surgirão apenas em ataques de multidões variadas, quando tudo isso se combinar, e tais cenários ainda não foram previstos aqui. Os inimigos, bobos, correm em massa em direção ao jogador, e tudo o que você precisa fazer é “spammar” duas ou três habilidades.
Combate Superficial e um Saque Desolador
Sobre os botões, não é exagero – não haverá um “piano” de habilidades aqui. Você tem potencialmente oito habilidades ativas disponíveis, mas é muito mais vantajoso personalizar as que já possui, investindo bastante nelas com pontos de habilidade. Embora lembre Last Epoch, o conceito está longe de ser tão interessante. Lá, as habilidades se combinam muito melhor, permitindo que você configure um resultado desejado de antemão e, em combate, assista a um espetáculo de mecânicas.
Aqui, tudo é muito mais modesto. As habilidades são ajustadas para adicionar um tipo de dano ou outro. Tornar projéteis mais rápidos ou mais lentos, adicionar veneno ou diminuir, aumentar o consumo de energia ou não. Não há uma reformulação radical dos princípios das habilidades, então você terá apenas que escolher a combinação que mais lhe agrada. Não se pode dizer que isso pareça ou se sinta muito eficaz.
A questão nem é o terrível estado técnico do combate, mas a decisão de remover o “ragdoll”: os inimigos agora, essencialmente, não têm física. Eles não voarão mais de forma épica, uma aranha não se esparramará nas pedras, simplesmente deixará para trás uma poça, e assim por diante. O jogo parece “você faz algo, alguém morre”, mas o entusiasmo, o suor e o vigor em toda essa empreitada são praticamente nulos – precisei fazer pausas na jogatina só para não morrer de tédio.
Enredo Esquecível e um Mundo Confuso
Precisamos nos agarrar a algo que Titan Quest II possa nos surpreender, mas essa tarefa é insuperável até para os deuses. Ah, sim, a história é sobre eles. Eu gostaria muito de contar algo sobre o enredo, mas a sua simplicidade fez com que este humilde servo, atingido por Hipnos, adormecesse logo no início: a deusa da vingança Nemesis, as Moiras, blá-blá-blá… A essência é que Nemesis quer destruir os deuses, usa artefatos titânicos, corrupção, monstros, tudo mais. Só um grande herói escolhido poderá abrir caminho por suas hordas e dar-lhe uma surra. Ah, que legal.
E abrir caminho será necessário em mapas que mudaram sua forma de construção. Antes, era um grande bioma com algumas saídas e entradas. Agora, temos territórios abertos infinitos, conectados por uma infinidade de passagens. Apenas seguindo em frente pela borda do mapa, de repente me deparei com monstros de alto nível, então é melhor explorar os níveis horizontalmente.
O preenchimento das localidades está em ordem, é difícil fazer reclamações aqui. Embora tudo isso seja terrivelmente banal, você constantemente encontrará personagens curiosos, locais de rituais e chefes em emboscadas. Se imaginarmos que, no futuro, os desenvolvedores corrigirão a dificuldade, o equilíbrio e a recompensa, isso será até emocionante. Mas, por enquanto, você derrota lixo para obter lixo.
A Ausência de um Sistema de Saque Estimulante
A propósito, sobre “lixo”. O jogo ainda carece completamente de qualquer avanço para tornar o sistema de equipamento interessante. Nenhum *crafting* ou runas; em toda a jogatina, encontrei apenas dois itens raros, e o restante é o típico “lixo” que você vende em massa para os comerciantes. Dentre todos os comerciantes, a chance de conseguir algo decente é apenas com aquele que gera itens com características aleatórias – nos outros, não há esperança. O “ladino” local nem sequer tinha um arco entre seus produtos: em algum lugar, vocês estão nos enganando, companheiros.
Tire deste simulador de violência contra tartarugas do pântano a orgulhosa marca Titan Quest e você o confundirá com alguma *demo* alfa de desenvolvedores anônimos para arrecadar fundos. Cada primeira avaliação positiva de Titan Quest II no Steam começa com as palavras “Passei toda a minha infância com este jogo…”. Eu também passei toda a minha infância com este jogo, e por isso amo exatamente aquele jogo, e não alguma cópia barata que nos é entregue em uma bandeja com a inscrição “Vinte e dois anos se passaram”.
Sim, vinte e dois anos se passaram, e se restou algum lugar para a nostalgia, ele pertence exatamente àquele primeiro jogo, com suas pilhas de mods, *builds* e aprimoramentos. E em vinte e dois anos, a indústria percorreu um caminho de desenvolvimento titanicamente longo, e é especialmente irônico que Titan Quest II não tenha conseguido repetir isso. Sim, ele não foi desenvolvido durante todo esse tempo, os orçamentos não são os mesmos, os tempos mudam. Então, por que se esconder atrás do sucesso da primeira parte? Um ato covarde para um “tapa-buraco” de seis horas que não tem identidade própria.
Talvez um dia, não é fato. Somente com essas palavras se pode descrever o futuro incerto de Titan Quest II. Manteremos o pulso da situação, mas gastar o equivalente a mil reais (ou o preço cheio) nas atuais seis horas de jogo só é justificável por um amor imenso a algo que já não existe e está muito distante, mas não pela intenção de ter uma experiência de jogo de qualidade.